Rodolfo
Juarez
Voltar a falar
do ocorrido no porto de embarque de minério em Santana, sem nenhum dado novo e
depois de dois meses do que aconteceu ali, além de ser a constatação de pouco caso
é o registro de um costume que se instalou por aqui, principalmente
considerando as questões de interesse dos menos aquinhoados.
Não que a
empresa seja um desses menos aquinhoados, muito pelo contrário, mas porque são
esses menos aquinhoados que continuam pendurados na esperança de serem vistos,
ou pelos dirigentes da empresa ou pelos dirigentes do Estado ou do município.
Tem sido assim
desde muito, mas muito diferente do que nos acostumamos a ver quando se trata
desse tipo de desastre em locais nem tão distantes daqui, ou, se distantes, com
diferenças muito pequenas nos elementos do cenário que conseguimos visualizar.
Lá no Rio Grande
do Sul, no acontecimento da boate, onde também morreram pessoas, tem gente
encarcerada, se conhece o resultado do inquérito, o Ministério Público está em
vias de ofertar a denúncia e, se o número de vítimas foi bem maior que o daqui,
o número de agentes provavelmente responsáveis, de testemunhas e de laudos por
lá, foi muito maior.
A complexidade
dos elementos para buscar os responsáveis são maiores lá do que aqui,
entretanto, nem de perto se tem o resultado das providências tomadas aqui
comparadas com as de lá.
No dia seguinte
ao desastre no porto de embarque de minério, em Santana, as autoridades
demonstraram que estavam dispostas a enfrentar o problema e resolvê-lo da
melhor forma.
Que nada! Parece
até que foi jogada ensaiada, mas só isso!
Todos os que
foram lá no local do desastre, de lá voltaram afirmando que fariam alguma
coisa. Essa “alguma coisa” foi se cristalizado, assim é que o Governo do Estado
criou um grupo de trabalho, tendo na composição alguns secretários importantes
sob o comando do Secretário de Indústria Comércio e Mineração.
A Assembleia
Legislativa criou uma Comissão Especial, dando-lhe prazo para dar uma resposta
para os demais deputados e para a sociedade.
O delegado
titulara da 1ª Delegacia de Santana, instaurou um inquérito para fazer a
persecução dos crimes decorrentes do desastre.
Nenhum dos
mecanismos usados se mostrou eficiente e o resultado é o retrato das
dificuldades que os agentes públicos encontrar para tratar esse assunto tão
sério e de direto interesse, principalmente das famílias que perderam os seus
parentes naquele inesquecível dia.
Já se forma dois
meses e nada!
As famílias dos
três desafortunados que continuam desaparecidos continuam pedindo compreensão
das autoridades públicas e dos dirigentes da empresa. Eles não arredam pé um só
dia, apoiado na mesma dor e no mesmo sentimento de impunidade que toma conta do
ambiente.
As respostas são
esperadas, em primeiro plano, daqueles que prometeram: o Estado, a Empresa, o
Munícipio de Santana e, especialmente, a Polícia Civil, que através do
inquérito policial que instaurou, precisa colher o maior número de dados,
identificar os prováveis responsáveis, indiciá-los e mandar o Inquérito
Policial para o Ministério Público.
É importante
centrar, entretanto, no sofrimento das famílias dos três funcionários
desaparecidos; nos gemidos, já sem força, dos filhos e dos demais parentes que,
decidiram continuar a vigília até onde os seus corpos aguentarem, muito mais
para serem vistas, do que animar a esperança de que os serviços de resgate
sejam retomados e os corpos, ou o que restar deles, dos seus parentes
localizados e resgatados.
O que se
constata em Santana, depois do desastre no porto e o desastre no relacionamento
que as empresas mantêm com os seus trabalhadores, suas famílias e os locais
onde moram.