Rodolfo Juarez
No Dia
Internacional da Mulher, 08 de maio quero homenagear minha mãe, Raimunda Pureza
Juarez, que vai completar 93 anos no dia 28 de abril.
Já
vacinada, enfrenta as dificuldades próprias de uma pessoa que já ultrapassou 82
anos de vida. Mesmo assim ainda tem forças para definir as suas vontades e dar
sugestões para os que estão próximos dela.
Raimunda
Juarez emociona-se todas as vezes que tem a oportunidade de falar, pelo
telefone, com cada um dos seus filhos, especialmente aqueles que não estão
próximo a ela.
Minha
mãe viu nascerem 12 filhos, todos de parto normal e em casa, sendo assistida
por parteiras tradicionais que “apararam” cada um deles. Típica mulher
ribeirinha, além de tomar conta da casa, foi marisqueira, catando ucuúba nas
águas do rio Santana, no município de Afuá, além de pracaxi, andiroba, xuru,
camucim, remela de cachorro, maracujá, entre outras especiarias que flutuavam
no rio.
De cada
visita ao Cacuri trazia para o almoço ou janta a pescada branca do rio, até
hoje lembrando com saudades daquele tempo que não precisa levar dinheiro para
trazer a alimentação. No retorno colhia dos matapis os camarões graúdos, ainda
pulando, e libertava os menores para que crescessem até a fase adulta.
Em casa
já tinha debulhado e orientado para que esquentasse a água para por “de molho”
o açaí enquanto aguardava os dois aguidás, um grande e um menor. O grande era
para amassar o açaí e o menor que tinha sobre ele uma peneira, para receber o
liquido grosso depois dos frutos serem peneirados, assim separando o liquido
dos caroços que eram reservados para alimentar os porcos complementando o
muru-muru que fora antes quebrado.
A
preservação do meio, mesmo sem se dar conta de que fazia isso, era uma
atividade permanente e comum da mulher que só não apanhava o açaí. Dizia:
“tenho quem faça isso”. Foi assim por parte de sua vida adulta, enquanto morava
na região do rio Lipo-Lipo, onde cuidou dos seus quatro primeiros filhos.
Durante
a gestação não fazia o pré-natal, hoje uma das medidas mais comuns, mas tinha o
acompanhamento da parteira da família que “puxava” e acompanhava, de forma
programada, todos os nove meses de gestação.
Quando
os filhos nasciam eram recebidos por cueiros, toalhas e pensos, cuidadosamente
lavados, defumados com essências do local e passados com “ferro de Brasa”, para
ganhar o cheiro gostoso que, até agora, lembram-se de todas as qualidades com
as quis eram protegidos.
Dona
Raimunda, a parturiente, já havia criado e preparado as galhinhas legornes,
quarenta delas, para no período (40 dias) do resguardo, serem o alimento da
parturiente.
Foram 4
filhos nascidos na região do Lipo-Lipo, 4 filhos na sede do município de Afuá e
4 nascido em Macapá.
Isso é
uma pequena mostra do valor dessa mulher para uma família de mais de 100 pessoas
e que, também agora em abril de 2021, vai nascer o seu primeiro tataraneto.
Dona
Raimunda é ou não é uma mulher guerreira?
Ela é a
mulher que escolhi para homenagear no dia Internacional da Mulher, 8 de março,
segunda-feira.
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