quinta-feira, 28 de maio de 2020

Deu tudo errado!


Rodolfo Juarez
O Estado do Amapá já conta os mortos às centenas. O sofrimento já atinge muitas famílias e grande número de pessoas. A estrutura para o enfrentamento da pandemia foi insuficiente e muito precária. Os resultados escancaram quando os serviços de saúde estavam mal cuidados, mal planejados e sem gestão.
O que se viu nesses dois meses de isolamento social e gerência da pandemia foi erros sucessivos na comunicação, no trato direto da questão, na predominância do comportamento político e na vontade de tirar vantagem financeira para resolver questões de muito pendentes na contabilidade do Governo do Estado.
A Prefeitura de Macapá, contando com apoio incondicional do Gabinete da Presidência do Senado, e com o prefeito entendendo que precisava fechar o mandato de forma melhor do que os seus antecessores mais recentes, estruturava o sistema municipal de saúde com a restauração e ampliação de umas e construção de outras UBSs na Capital, o mesmo acontecendo com postos de saúde no interior do município.
Desde o começo de 2019 emendas parlamentares deram condições para que as farmácias públicas municipais fossem abastecidas e assim estivessem prontas para receber os recursos de 2020 para continuar contando com a entrada de medicamentos para serem dispensados aos que precisassem.
Noutra face, a Secretaria de Saúde do Estado começou 2020 com um quadro de funcionários onde 15% dos servidores foi admitido por celebração de contratos administrativos individuais, o que representava em torno de mil funcionários.
A direção da Secretaria de Estado da Saúde, alegando que não tinha orçamento para sustentar os funcionários admitidos como contratados. Alegou que não tinha como manter os contratados, uma vez que representava quase 10 milhões de reais mensais e que esse valor não cabia no orçamento estadual de 2020, aprovado que fora pelos deputados e sancionado pelo governador do Estado.
O desânimo entre todos, inclusive entre os funcionários efetivos e os do quadro da União que estão lotados na Secretaria, era evidente. Pelo menos 170 médicos estavam entre os que mantinham o vínculo com o Governo do Estado de forma precária e por contrato administrativo.
Há 10 anos o sistema público de serviço de saúde oferecido pelo Governo do Estado vinha sendo insuficiente para atender à procura da população que, não raro, protestavam em frente às unidades de saúde do Estado, pugnando por melhor atendimento. Doutro lado, os funcionários do sistema também protestavam exigindo melhorias salariais e condições de trabalho, inclusive por falta de EPIs.
Foi nesse ambiente que o sistema de saúde pública estadual do Amapá recebeu a declaração de pandemia pelo novo coronavírus, feita pela OMS.
Mesmo assim o governador do Estado, considerando erradamente que o ambiente era favorável e oportuno, imaginou que poderia resolver os seus graves problemas de caixa que se arrastam desde 2018. Ingressou em um grupo de governadores onde é o menos influente e menos ouvido. Deu tudo errado, mesmo com o apoio direto do presidente do Senado.

sábado, 23 de maio de 2020


Macapá, 22 de maio de 2020.
AGRADECIMENTO
Eu sou Rodolfo Juarez, completei 74 anos no dia 19 de maio deste ano e fui, durante um ano, dois meses e mais duas sessões, paciente em hemodiálise da Unidade de Nefrologia do Hospital de Clínicas Alberto Lima, no turno extra (4.º turno).
Estou aqui e por esse meio de comunicação agradecendo a forma como fui tratado pelos profissionais médicos, enfermeiros, auxiliar de enfermagem, técnicos em enfermagem, atendentes e todos os demais profissionais que cuidaram do nosso bem estar durante o tempo em que lá estivemos.
Apesar de todas as dificuldades pela falta de equipamento de proteção individual, de não contar com laboratório para exames clínicos, também não contar com sociólogos, psicólogos e outros profissionais de apoio aos médicos, paramédicos e pacientes, essa carência nunca tirou o compromisso profissional e de humanidade para com os pacientes da lista como para os pacientes em emergência vindos do Hospital do Pronto Socorro.
Sempre atenciosos, demonstrando e transmitindo tranquilidade, os paramédicos lotados naquela unidade do Hcal, procuravam tranquilizar cada um daqueles que estavam em hemodiálise, mesmo sabendo que teriam que ficar à noite para os procedimentos de lavagem das máquinas e ao mesmo tempo em pernoite cansativo, mas necessário para garantir assepsia dos instrumentos e máquinas que seriam utilizadas no dia seguinte a partir das sete horas da manhã.
Vocês merecem meus agradecimentos e o meu reconhecimento por tudo o que fizeram por mim enquanto estive sob os seus cuidados, no turno extra (quarto turno). Que Deus reconheça e recompense todo esse esforço dando-lhes saúde, felicidade e paz.
Muito obrigado do fundo do meu coração e do que me resta dos rins.
Estou agora na Uninefro onde continuo as sessões de hemodiálise e onde encontrei muitos dos soldados que me protegeram ai na Unidade de Nefrologia do Hcal e, com outros companheiros e noutro ambiente, devem dividir o conhecimento e experiência com aqueles que estão começando.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O lado B do governador do Amapá


O LADO B DO GOVERNADOR
Rodolfo Juarez
Seja em tempo de normalidade ou em tempo extraordinário é impressionante a vontade que desperta em mandatários, mesmo eleitos democraticamente, e que durante a campanha defenderam o processo democrático onde todos têm o direito de votar e escolher seus dirigentes. Os eleitos, principalmente para o executivo, são tentados a procedimentos ditatoriais e desnecessários como a vontade do confisco de patrimônio.
A definição de confisco, que vem do latim e significa “juntar-se ao tesouro” é a tomada da propriedade de uma dada pessoa ou organização, por parte do governo ou outra autoridade pública, sem que haja o pagamento de qualquer compensação, como forma de punição para determinado delito.
Até agora os gestores que tentaram o confisco foram fortemente rechaçados pelas leis e tiveram que deixar a tentativa, mas todos ficam em alerta e precavidos para, no momento da defesa, como fizeram os representantes de hospitais privados e filantrópicos que se reuniram com o ministro Dias Toffoli do Supremo Tribunal Federal, solicitando providências ao STF por conta de 'confiscos' (requisições administrativas) de EPIs (equipamentos de proteção individual) e medicamentos, por parte do Governo Federal, Estados e Municípios, afirmaram as entidades, que a prática está sendo tentada de várias formar.
Após a reunião, um ofício, assinado por organizações que representa mais de 4 mil hospitais, foi enviado a Tóffoli que preside o Supremo.
Aqui no Amapá o governador do Estado, Waldez Góes, através do Decreto n.º 1725, de 15 de maio de 2020, publicado no Diário Oficial do Estado na mesma data, determinou “a requisição administrativa de bens, em razão da necessidade de enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do novo coronavírus”.
Para justificar o procedimento tentado o governador se valeu, entre outros diplomas vigentes, do fundamento previsto no inciso XXV, do art. 5.º da Constituição Federal que manda: “no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurado ao proprietário, indenização ulterior, se houver dano”, que não serve para esse procedimento.
O art. 1.º do Decreto Estadual n.º 1725 é profundamente autoritário e inconstitucional, senão veja: “fica determinada a requisição administrativa de medicamentos, insumos, equipamentos de proteção individual - EPIs, quais sejam, máscaras cirúrgicas, máscaras de proteção, luvas de procedimento, aventais hospitalares e óculos de proteção, e, ainda, bens móveis ou imóveis, antissépticos para higienização, tendo como objetivo o enfrentamento da pandemia do Coronavírus, autorizando-se o recolhimento nas sedes ou locais de armazenamento dos fabricantes, distribuidores e varejistas”.
O comércio dos produtos citados no do art. 1.º do decreto é restrito e, se manejado de outra forma, para aquisição de materiais e equipamentos como, por exemplo, uma reunião entre os empresários e o governo, e assegurado o pagamento, não haveria qualquer problema para os empresários atenderem às necessidades, fornecendo os tudo o que fosse necessário.
O Governo do Amapá, em sua história recente, tem sido um mau pagador de tudo o que compra, por isso, acreditar que o pagamento seria em dia tornava-se uma atitude de alto-risco.
Mas a questão principal aqui é com relação ao procedimento ideológico pessoal do governador do Estado que, mesmo sendo presidente de um partido políticos que tem o vocábulo “democrático” na identificação do partido e sabendo do momento crítico por qual passam os empresários locais, preferiu mostrar a sua face de ditador, agindo violentamente contra empresas e empresários.
Por outro lado a reação firme dos empresários e de conselheiros eventuais o levou a assinar o decreto n.º 1728, em 16 de maio de 2020, tornando sem efeito o Decreto de Exceção do dia anterior, bem como apresentar uma “nota de esclarecimento” com justificativas duvidosas.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Lockdown: a novidade dos meus 74 anos de vida


Rodolfo Juarez
Eu nasci no dia 19 de maio de 1946 e, hoje, exatamente hoje, completei, às 3 horas da madrugada, 74 anos que chorei pela primeira vez. Depois não tenho como dizer quantas outras vezes e os motivos pelos quais voltei a chorar.
Considero-me uma pessoa emotiva e tive vários momentos que justificam esse meu lado emocional, tanto por questões pessoais como por questões de outra ordem, quando de vitórias coletivas ou individuais.
Nascido em 1946, convivi com duas das seis repúblicas que o Brasil já experimentou e estou vivendo a atual, a sétima república, que começou em 1985 e permanece até hoje, registrada no consciente de muitos como a Nova República, já com de 35 anos, tendo como espinha dorsal uma Constituição promulgada em 1988 e que já lhe foi inserida mais de 100 Emendas.
Antes, vivi a 4.ª República, que durou de 1945 a 1964, que coincide com meu período infantil, de pré-adolescência e de toda a adolescência. Também foi tempo para concluir o curso primário, no Grupo Escolar de Afuá, em 1959; de 1960 a 1966 estudei o ginasial e o colegial no Colégio Amapaense, em Macapá.
Em 1964 houve o golpe civil-militar que marcou o início da 5.ª República, a Ditadura Militar, que foi até 1985. Considere que aos 18 anos eu estava cursando primeiro ano do Curso Colegial, no chamado, então, Colégio Padrão, educandário que atraia a atenção dos olhos de todos os militantes da ditadura. Nesse tempo eu trabalhava  como professor de Matemática, do então Território Federal do Amapá. Minhas primeiras turmas, em 1965, foram no Ginásio Santa Bartolomea Capitâneo, em Macapá.
De 1967 a 1971 fiz o Curso de Engenharia, na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Pará, onde me formei em Engenharia Civil, em dezembro de 1971. Em 1972 recebia a Carteira de Registro no CREA/PA. Em 74/75 fiz o mestrado em Engenharia de Sistemas Urbanos e em 76/77 o doutorado em Infraestrutura Urbana.
Em 1980, formei em Jornalismo e, de 2005 a 2009 fiz o Curso de Bacharel em Direito; de 2010/2011 conclui a pós-graduação em Direito Processual e, em 2014, recebi a Carteira da OAB/AP me credenciando como advogado.
Durante esses 74 anos lutei, vivi e sobrevivi, mesmo com diversidades que tive que enfrentar em períodos e por tempos diferentes como: as preocupações com o final da segunda guerra, a vida de ribeirinho no interior do município do Afuá, as mudanças de cidade, no começo devido às necessidades de estudar, depois, para trabalhar, crises administrativas e políticas, suicídio de presidente, presidente eleito que não tomou posse, presidente não eleito que tomou posse, presidente renunciar, presidente ser impitimado, vice-presidentes assumindo a Presidência da República.
Vi também como é o Parlamentarismo no Brasil, eleição de presidente pelo Colégio Eleitoral, hiperinflação, planos econômicos diversos, recessão econômica, golpes, votação de constituição, promulgação de constituição, empoderamento feminino, lutas por igualdade de gênero, alteração no processo educacional e tantas outras questões, umas que deram certo e outras que se tornaram fracasso.
Mas vivi 74 anos para ver a um lockdown engendrado por administradores estaduais e municipais, sem a certeza de que a medida vai dar certo.
Vivi para ver a discussão sem fim sobre cloroquina por parte de pessoas que não estão habilitadas para a temática, mas que precisam dar uma resposta.  Ninguém sabe se vai ou não dar certo o lockdown! Mesmo assim insistem no método de tentativa e erro, com resultados duvidosos e incertos.
Completo 74 anos ajudado por uma máquina de hemodiálise há mais de um ano.

sexta-feira, 15 de maio de 2020


CABRALZINHO: O HERÓI AMAPAENSE.
Rodolfo Juarez

Hoje a quarentena recebe um reforço de peso para que todos possam atender a recomendação de ficar em casa, não para comemorar, mas para quebrar a cadeia de transmissão do vírus que já sacrificou muitas pessoas queridas aqui no Amapá, o feriado estadual de Cabralzinho, definido pela Lei 2.213, de 11 de julho de 2017.
Mas é preciso falar de Cabralzinho, Francisco Xavier da Veiga Cabral, o cametaense que viveu 44 anos - nasceu em 05 de maio de 1861 e morreu no dia 18 de maio de 1905. Comerciante, funcionário público, político, chegou a ser despachante da alfândega paraense.
Depois de participar de revolta no Pará, e perder, fugiu para os Estados Unidos e de lá só retornou após saber da declaração de anistia aos envolvidos na revolta. Não foi para Belém temendo represálias, veio para o Amapá e se instalou na Vila do Espírito Santo do Amapá, pois tinha notícias da descoberta de campos auríferos em Calçoene.
Na época Calçoene, e toda a área que ficava entre o Rio Araguari e o Rio Oiapoque tinha a propriedade do Brasil contestada pela França. Calçoene e, especialmente o sítio aurífero estava na região do contestado.
Mesmo vivendo do comércio, o espírito de político não o deixava afastado das decisões políticas. Não demorou a fazer parte do Triunvirato que fora designado para governar a região que nominavam de Amapá. Virou presidente da área contestada em dezembro de 1894.
Foi a condição de presidente do “contestado” que mais incomodou os dirigentes franceses da Guiana, que sustentavam a propriedade da área baseados no Tratado Provisional de 1700, que não definiu, claramente, os limites entre Brasil e a Guiana Francesa.
Emilio Goeldi, pesquisador paraense, o descreveu como chefe de uma oligarquia de capangas, tomando por base o modo de agir de Cabralzinho.
No dia 15 de maio de 1895 foi registrado o fato que o transformou em herói amapaense que, para não fugir à regra, alguns historiadores insistem em registrar que não foi bem assim.
Na gestão dos interesses do contestado, Cabralzinho dividia o poder com Trajano, que era o representante do governo francês no Triunvirato. Por discordância com Cabralzinho, Trajano é preso, fato que irritou o então governador, Mr. Charvein, que reagiu ordenando que o navio de guerra Bengali, comandado pelo capitão-tenente Lumier, com uma expedição militar, invadisse a Vila do Espírito Santo do Amapá.
A canhoneira Bengali chegou em Amapá no dia 15 de maio de 1895, tinha como missão libertar Trajano e prender Cabralzinho.
A Vila Espírito Santo do Amapá tornou-se um campo de batalha. Crianças, idosos e adultos foram massacrados, 40 pessoas entre as quais quatro oficiais franceses, entre eles o seu comandante.
As  versões dessa parte da história são diversas, mas o fato é que as discussões passaram para as esferas nacionais de Brasil e França, até que, em 1.º de dezembro de 1900 foi decidido que os limites territoriais entre o Brasil e a Guiana Francesa era o Rio Oiapoque.

domingo, 10 de maio de 2020

Não podemos esperar outros vencerem por nós


Rodolfo Juarez
A população está ficando muito assustada, e com razão, pelo aumento do número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e de pessoas que estão morrendo por ataque desse vírus ou por doenças que podem ter sido agravadas pela covid-19.
As medidas tomadas pelas autoridades, tanto do estado como dos municípios não surtiram os efeitos esperados e, em verdade, não dá nem para culpar quem quer que seja, muito embora se conheça o nome e o sobrenome daqueles que teriam que ter agido preventivamente e objetivamente.
Considerando os números relativos que são usados pelas autoridades nacionais para definir as situações de alerta, atenção e emergência, o Estado do Amapá está  entre os estados em situação de emergência.
As mortes de pessoas mais próximas estão deixando a população em alerta e, agora, disposta a cooperar com aqueles que têm a atribuição de zelar pela segurança e a saúde de todos da população.
Agora, no final desta semana, o Ministério Público Estadual propôs uma Ação Civil Pública com pedido de tutela provisória de urgência, e o Judiciário local deferiu a liminar para que tanto o governador como o prefeito de Macapá, o município onde há o maior número de infectados no estado, providencie para que os decretos baixados sejam eficazes e logo, uma vez que, pelo menos até agora, não ofereceram os resultados prometidos.
De outra parte os governantes, com apoio das bancadas parlamentares federais e estaduais, bem como, no caso do prefeito, as bancadas de vereadores, têm pugnado por apoio financeiro para aplicar no combate ao inimigo invisível e comum de todos. Os recursos foram garantidos e a eficácia das ações não foi registrada.
Mesmo neste cenário, em uma semana foram anotadas duas operações policiais, uma da polícia federal – a “Chão de Vidro” -, e outra da polícia civil – a “Negócio da China”. As duas por indícios de superfaturamento, entre outros itens. Isso é grave. Agora os governantes estão com a possibilidade aberta de comprar por em emergência e com dispensa de licitação.
Outro que não colaborou foi parte da população. Tiveram que sair para buscar o auxílio do Governo Federal e outros auxílios financeiros nos bancos e, nesse momento não receberam orientação ou fiscalização para cumprir um dos itens mais comuns nos decretos do governador do estado e do prefeito de Macapá, o item “fique em casa”.
Agora, com o leite derramado, todos têm que partir para recuperar o que puder. O tempo certamente não dá para recuperar, mas o comportamento sim.
A população precisa entrincheirar-se em casa e não esperar o ataque do inimigo invisível. Tem que avançar, organizadamente, no sentido de esmagar a possibilidade de contaminação, obedecendo às orientações das autoridades médicas e, também, das autoridades administrativas, no sentido de preservar a vida, senão for assim, poderemos perder mais um embate e esperar que outros ganhem a guerra por nós.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

A delicada e indesejável intervenção de um Poder em outro


Artigo
Rodolfo Juarez
Esta semana os brasileiros souberam como um dos Poderes da República, o Judiciário, representado pelo Maximo colegiado - o Supremo Tribunal Federal-, interviu, diretamente, em uma ação própria de outro Poder, o Executivo, quando da nomeação de um auxiliar especializado, para um dos cargos da Polícia Federal que, no organograma do Executivo Federal, está subordinado ao ministério da Justiça e Segurança Pública.
O auxiliar já tinha sido escolhido, com nomeação pública no Diário Oficial da União, quando, se valendo de uma análise transversal, que clamava pelos princípios da impessoalidade, da moralidade e do interesse público, o ministro Alexandre de Moraes (STF), deferiu uma liminar na ação protocolada pelo presidente do PDT, que alegou abuso de poder por desvio de finalidade.
O ministro Alexandre de Moraes agiu juridicamente ou politicamente?
A resposta para esse questionamento é buscada desde o momento em que a decisão liminar e individual foi dada ao conhecimento público.
São vários os cenários montados para que seja feita a análise. A maioria destes cenários indica que, tanto pela motivação, quanto pelas justificativas apresentadas pelo ministro, o que houve foi uma decisão política e não jurídica, tanto pela falta do debate quanto pelo momento do enfrentamento da pandemia.
Dos princípios que fundamentaram a decisão do ministro, dois deles estão no artigo 37 da Constituição Federal – impessoalidade e moralidade -, o outro princípio, o do interesse público, se conceitua como interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membro da sociedade.
princípio da impessoalidade na administração pública estabelece o dever de imparcialidade na defesa do interesse público, impedindo discriminações e privilégios indevidamente dispensados a particulares no exercício da função administrativa. O princípio da moralidade administrativa sustenta que tanto agentes quanto a Administração devem agir conforme os preceitos éticos, já que tal violação implicará em uma transgressão do próprio Direito, o que caracterizará um ato ilícito de modo a gerar a conduta viciada em uma conduta invalidada.
O ministro Alexandre de Moraes alegou, quando analisou a parte material da questão, que sua decisão era cabível, pois a PF “não é um órgão de inteligência da Presidência da República”, mas sim de “polícia judiciária da União, inclusive em diversas investigações sigilosas”.
A outra pergunta que se impõe, considerando que se trata de um ministro da máxima corte do Judiciário. Não é o nomeado que se tem que cumprir as regras internas do cargo?
O artigo 2.º da Constituição Federal, cláusula pétrea, manda, e deve ser respeitado por todos, inclusive os ministros do STF, que “são Poderes da União, independentes e harmônicos, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Mostrando preocupação com a decisão monocrática do ministro Alexandre de Moraes, o ministro Marco Aurélio enviou ao presidente do STF, ministro Dias Toffoli, ofício sugerindo a necessidade de guardar a Lei das leis, a Constituição Federal, propondo emenda ao Regimento Interno e dando ênfase à atuação colegiada, afim de que, em discussão ato de outro Poder, deve ser examinado e decidido, ainda que de forma provisória, acauteladora, pelo colegiado.
A mudança proposta no Regimento é no art. 5.º, acrescentando o inciso XI com o seguinte texto: “apreciar pedido de tutela de urgência, quando envolvido ato do Poder Executivo ou Legislativo, praticado no campo da atuação precípua”.

domingo, 3 de maio de 2020

Não aconteceu o achatamento prometido da curva


Rodolfo Juarez
Até agora as autoridades públicas que têm como obrigação precípua cuidar do bem estar da população não têm conseguido ser eficaz no atingimento das metas que estabelecem para enfrentar o vírus chinês, o novo coronavírus.
Apesar de ter tido um tempo para montar as barreiras, definir as trincheiras e identificar os abrigos, as ações tomadas foram muito tímidas e deixaram flancos abertos por onde o inimigo se infiltrou e fez o combate corpo-a-corpo pegando todos desarmados e despreparados para um briga, imaginem para uma guerra.
Não levaram em conta o treinamento e a preparação da população para o embate!
Os “generais” preferiram elaborar sozinhos, as medidas restritivas que adotariam, sem levar em consideração que o inimigo comum poderia resistir mais tempo além daqueles enigmáticos 14 dias. As medidas locais foram adotadas segundo as experiências tomadas na China e na Europa, e sob as confusas propostas da Organização Mundial da Saúde (OMS), instituindo as barreiras sanitárias.
Por aqui, no estado, e em Macapá não se lida, há muito tempo, com as questões sanitárias, provavelmente as mais precárias do Brasil, com uma população que vê o esgoto passar na sua porta, ou por baixo de sua casa e a água tratada não chega para mais da metade da população da capital, além de abrigar o maior índice nacional de desempregados.
Claro que parar compreender tudo e o que chega de repente, a população precisaria de suporte especial para que a população que ganha, a cada dia, o dinheiro para a alimentação do dia seguinte, para que pudesse ficar em casa com, pelo menos o que comer durante os 14 dias da quarentena.
Por isso o “fique em casa” acabou não dando os resultados anunciados de que bastaria passar 14 dias em quarentena e todos se livrariam do vírus. O procedimento desejado foi batizado de “isolamento social”, isso para um povo que demonstra preferir a Democracia a qualquer outro regime, por causa da liberdade.
O isolamento social funcionou – e olhe lá -, para aqueles que são funcionários públicos e têm assegurados os seus salários no fim do mês ou pelo menos pensam assim. Também para os empresários que desenvolve atividade considerada essencial, que pode manter o seu caixa aberto e entrando dinheiro.
Houve a proibição da aglomeração de pessoas e ai os problemas se agigantaram porque ninguém se preocupou com um plano que tornasse possível o isomanto social e a não aglomeração, com a população tendo que ir ao banco, ao supermercado, à farmácia e a outros locais que entraram na lista de atividades essenciais.
A promessa de achatar a curva não se confirmou. A curva, infelizmente continuou convexa, subindo, e ainda sem qualquer garantia de quando a curva começará achatar, a população voltar a vida normal e as autoridades selecionarem a parte que lhes interessa para colocar no relatório que vai precisar para justificar os gastos extraordinários.
Todos sabiam que o sistema estadual de saúde apresentava péssimas condições de atendimento. As reclamações acontecem há anos, feitas por aqueles que contaram com o atendimento e não o tiveram.
Então, o que esperar?
Milagre?!
Nem equipamento de proteção individual os profissionais de saúde, que atuam na linha de frente, no combate às doenças instaladas, dispõem. Os centros de tratamento intensivo estão sucateados. Exames, inclusive de sangue, não são feitos na rede estadual de saúde, sabe-se lá por que. A situação é conhecida e reconhecida pelos gestores estaduais e, obviamente, eles não seriam um bom recepcionista nesse momento.
Quanto o achatamento da curva, todas as projeções falharam.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Covid-19: Sem antídoto resta a sorte.


Rodolfo Juarez
Toda vez que somos desafiados a enfrentar um problema, a primeira providência é laçar mão dos meios conhecidos para equacioná-lo e resolvê-lo. Mesmo nessas circunstâncias, a primeira providência é equacionar. Não é resolver!
Quando se tem um problema para resolver e não se conhece a fórmula e a estratégia para encontrá-la, o racional é que se estabeleça uma linha lógica para elaborar a fórmula para aplicá-la na solução do problema. É o lógico!
Agora, quando não se dispões da fórmula e nem do conhecimento para elaborá-la não adianta dar nada como definitivo, senão os resultados serão desastrosos e o cenário fica cada vez mais complicado, não admitindo tentativas. É o racional!
O novo coronavírus se trouxe alguma situação conhecida, além da agressividade da covid-19, está toda concentrada no vocábulo “novo” e na exata forma definida nos mais simples dos dicionários.
O novo coronavírus foi o desafio do século para os gestores públicos de todo o mundo. Que sendo oportunistas, viram na primeira hora uma oportunidade de se mostra  para a população e angariar créditos políticos futuros para a próxima eleição.
Irresponsáveis, cada um saiu com uma regra preventiva e salvadora, para enfrentar o que foi definido como “maior inimigo”. Os governantes brasileiros mostraram,cada um, sua credencial e começou o maior quebra-pau.
Quebra-pau ai no sentido de briga virtual, cada um no seu púlpito, sentado ou de pé, completamente despido do que entendem por respeito, hierarquia e compromisso com a população que passou a ser usada como massa de manobra, mais uma vez.
Quando espocou a bolha e se definiu a questão como um problema de saúde, se passou a ouvir as orientações de outra fonte, tida como boa e oficial, mas também despreparada e oportunista – o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Não sabia de nada. Sabia só que estava ali pelos conchavos políticos e demorou em declara que o assunto era de pandemia, quando mais de 100 países se debatiam para salvar o que pudessem, inclusive o Brasil.
Ai os governadores fizeram carta de apoio, carta de repúdio, desentenderam-se sobre o comportamento, e voltaram para o lugar comum – declarar dificuldades e dizer que precisavam de dinheiro da União para fazer alguma coisa.
Afinal, o que é um governar?
Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, governar é exercer o governo, ser responsável pela administração dos vários setores de um Estado, de um país, ou de uma organização; administrar, gerir, dominar, imperar, conduzir, dirigir, pilotar.
Não tem nenhuma referência em pedir dinheiro da União para fazer o que deve ser feito por obrigação funcional, para honrar o cargo que recebeu da maioria de uma população que confiou no dia da escolha.
Mão é isso que quer. Quer gastar e gastar sem regra a seguir!
A primeira providência que toma, antes mesmo de lavar a boca quando acorda, é orientar para que seja feito um decreto, com a máxima urgência, para assinar e publicar, tendo o decreto nas suas permissividades, aceitar, permitir ou tolerar o que, normalmente, em outros documentos públicos não seria tolerado, permitido ou aceito.
Abre-se a porta para superfaturamento, entre outros tipos de ilícitos, nas compras com dinheiro público e, de preferência aquele que vem da União porque o que já está na caixa do Tesouro do Estado, ou já está destinado, ou já foi gasto com o tacho ficando totalmente raspado.
E o vírus? Bem, desse salve-se quem puder!
Povo sem trabalho fica sem dinheiro e a ajuda oficial vem pelo banco. Para receber tem que ter e saber operação avançada para baixar o aplicativo, tem que ir ao caixa do banco para receber. Isso sem aglomeração – como se fosse possível -, pois o “dono” do Tesouro Nacional não confia em entregar o dinheiro para o “dono” do Tesouro Estadual (???).