quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Já vai tarde demais

Rodolfo Juarez
Às vésperas de completar 28 anos do momento em que transferiu o seu domicílio eleitoral do Maranhão para o Amapá, o senhor José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, que adotou o nome político de José Sarney, pede e obtém a transferência do domicílio eleitoral e volta a ser eleitor do Estado do Maranhão.
Oportunismo, interesse eleitoral ou simplesmente entrega dos pontos, depois de perceber que o prestígio de quando aqui chegou foi diminuindo ao ponto de não lhe garantir mais a escolha de um mandato e não ter mais a certeza de que não perderia a eleição.
No período em que manteve o seu domicílio eleitoral no Amapá foi, por três vezes consecutivas, eleito senador pelo Estado do Amapá e, assim, durante 24 anos José Sarney se tornou senador pelo Amapá e nessa condição foi, por três vezes, presidente do Senado e do Congresso.
Quando José Sarney chegou no Amapá, trazido pelo seu conterrâneo Jorge Nova da Costa, que governou o Amapá por indicação de José Sarney e por ele nomeado, já vinha com a certeza de que disputaria uma vaga para o Senado e que teria chances, considerando os argumentos de Nova da Costa e a adesão de empresários influentes e políticos nascentes.
Havia três vagas para senador na eleição de 1990 e era a primeira vez que o eleitor amapaense tinha a oportunidade de eleger senador, uma vez que, como Território Federal, os eleitores daqui elegiam apenas deputados federais nas eleições regionais.
Apesar de ter sido o presidente da República que experimentara a maior inflação já vista no Brasil, por aqui se apresentava e era apresentado como ex-presidente da República e isso bastou para os aliados, os empresários e o eleitor que o elegeu em primeiro lugar, dando-lhe o direito de começar com o mandato de oito anos. Os outros dois eleitos foram senadores pro quatro anos.
Durante 24 anos consecutivos José Sarney se valeu de toda a sua habilidade política para, manhosamente, comandar políticos influentes no Estado e manter, mesmo a distância, domínio sobre as principais decisões de interesse do Amapá.
Fazia questão de ter amigos só dele e, com uma variedade de ações os mantinha como defensores, em troca transformava o mandato em pontes que nem sempre levavam os seus usuários por planícies, alguns deles chegaram a cair em precipício e outros ainda estão balançando.
José Sarney é um dos remanescentes da política do coronelismo e também um dos exemplos da política familiar, fazendo do serviço público trampolim para seus voos nunca no escuro.
Apesar dos 24 anos de mandato de senador que o eleitor amapaense lhe deu, volta para onde de lá não saiu, deixando no Amapá muito pouco para a população, que não vai sentir falta, não vai lamentar a sua ida e, muito menos, vai pedir para voltar. Uma boa parte vai dizer que “já vai tarde” e a maioria dirá que “nem deveria ter vindo”.
Não vai ter despedida no aeroporto, a não ser daqueles que não compreenderam o outro lado dessa aventura que durou quase 28 anos e que só trouxe resultados para o próprio José Sarney e para alguns poucos que ele conseguiu convencer que estava disposto a “ajudar”.
É importante destacar que o mesmo eleitor que pedia autógrafo em 1990 durante a primeira campanha, foi o mesmo que o quis vê-lo pelas costas desde 2014 quando lhe aplicou derrota exemplar.
O que vai fazer no Maranhão? Certamente continuar o seu projeto familiar, pretendendo eleger sua filha governador, seu filho senador e seu neto deputado estadual.
Ainda lembram do repulsa que causou quando José Sarney insinuou que o seu filho seria candidato a senador pelo Amapá?
Mesmo assim quase “cola”.

Assim, o eleitor amapaense já vê fora da cena um “cacique”, mas ainda faltam alguns “viúvos” e algumas “viúvas”.

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