terça-feira, 12 de outubro de 2021

Meu Pai: 99 anos depois - Um pouco da biografia de um ribeirinho da Amazônia Brasileira

Por Rodolfo Juarez 

Meu pai completaria neste dia 7 de outubro de 2021, 99 anos de idade. Mas, prematuramente, teve sua vida encerrada no dia 3 de dezembro de 1973, tendo-lhe sido permitido viver por 51 anos e 37 dias.

Perdeu a luta lutando. Querendo viver!

Os médicos não tiveram forças para enfrentar o mal do qual fora acometido, e que fez os seus últimos dias de vida acontecerem em um leito da Beneficente Portuguesa, em Belém do Pará. Um homem que continua sendo referência para os que o conheceram e para aqueles que, com ele, conviveram.

Heráclito Juarez Filho nasceu em Alagoas, em 7 de outubro de 1922 e morreu em Belém do Pará, no dia 3 de dezembro de 1943, deixando a esposa, Raimunda Pureza Juarez e 12 filhos - 9 homens e 3 mulheres.

Filho de Heráclito Juarez de Araújo e Silva e Rosa Lima de Araújo e Silva, Heráclito Juarez Filho foi o 4.ª filho de uma lista de 8, formado por 5 homens e 3 mulheres.

Um pouco antes de casar, no começo de 1944, construiu a sua primeira casa nas margens do Lipo-Lipo, na confluência com o Rio Santana. Para a margem deste rio mudou-se em 1949, em um ponto do rio que permitia maior calado para ancorar embarcações do tipo regatão, comum naquela época nos rios da região.

No local comprava borracha de seringueira, na forma de bolão e pele, além do látex e do sernambi, com mercado certo em Belém do Para.

No porto próprio que construira, praticava uma espécie de troca de mercadorias. Na prática trocava castanha de andiroba, pracaxi, ucuúba, peles de animais e outros produtos da floresta, por açúcar branco, açúcar moreno, sal, aguardente, fósforo, remédio, tabaco, cigarro, rosca, biscoito, além de outros produtos como sal de cozinha e manteiga.

Também tinha compra regular de madeira, tipo dormente, juntados em jangada, para serem usados na construção e, depois, na manutenção da Estrada de Ferro do Amapá.

Em 1954, mudou-se para a sede do município de Afuá, na ilha do mesmo nome, para dar oportunidade aos filhos, em idade escolar, de estudar em uma escola regular, só oferecido, naquela época, na sede do município.

Em 1959, depois da conclusão do Curso Primário do primeiro Filho, no Grupo Escolar de Afuá, mudou-se com toda a família para Macapá, então capital do Território Federal do Amapá, tendo como principal motivação e justificativa a necessidade do filho mais velho, participar do Exame de Admissão para o Curso Ginasial do Colégio Amapaense.

No final da noite do dia 10, a embarcação em estava a família “entrou” na Doca da Fortaleza e esperou até amanhecer o dia 11 de dezembro pra desembarcar e ir conhecer a nova casa já providenciada pelo chefe da família, Heráclito Juarez Filho. A casa ficava no então Bairro do Elesbão, hoje Santa Inês, próximo da esquina da Avenida Pedro Baião, com a Rua São José.

Heráclito Juarez Filho sempre foi comerciante. Já nos tempos do Lipo-Lipo negociava e, do negócio, tirava o sustento da família. Se movimentava pelo rio de montaria, casco, batelão, primeiro a remo e faia, conforme a embarcação, depois com motor de popa.

Em Macapá, continuou a seu mister, negociando secos e molhados, em um armazém na esquina da Rua São José com Coaracy Nunes, onde a família já morava depois de passar por outras moradias, todas por menos de um ano.

Desde quando morava na sede do município de Afuá já fazia do transporte de suas mercadorias e, de terceiros, o seu ganha-pão. Levava o que coletava na sua micro região de influência para Belém do Pará e, trazia as mercadorias para abastecer o seu próprio comércio.

Dos terceiros, proprietários das mercadorias que transportava, cobrava o frete, essa cobrança correspondia aos serviços de carga, transporte e descarga no destino.

É pra este homem, um ribeirinho de verdade, preservador do ambiente e grade chefe de família que rendemos as nossas homenagens todos os dias e as declaramos, a todos, nestes momentos.

Um homem cada vez mais reverenciado pelos seus filhos, já veteranos, com os três primeiros superando a marca dos 70 anos de idade, todos reconhecendo a sua importância e o que significou para futuro que hoje vivemos.

Sempre é bom recordar de um homem dessa envergadura, com relevante percepção de futuro, compreendendo a sua missão com chefe de família, muito embora não pretendesse se tornar referência, espelho e exemplo. Se sabe hoje que estava à frene do seu tempo, propondo caminhos para os filhos, caminhos bons, seguros e sustentado pelo saber, sendo referência, hoje, para toda a família.

Obrigado meu pai! 

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