terça-feira, 9 de novembro de 2021

Os perigos da navegação fluvial na Amazônia.

Rodolfo Juarez

Mais um acidente que entra para a estatística dos acidentes fluviais na região Amazônica que, lamentavelmente, não consegue despertar nas autoridades locais, regionais e nacionais o sentimento de que é de suas responsabilidades conter essa onda, considerando as características de cada um dos acidentes e os horários em que acontecem.

Os “rigorosos inquéritos” que são abertos pela Marinha do Brasil, além de darem resposta tardia para a sociedade, não refletem qualquer mudança nos elementos constitutivos da navegação fluvial como porto de embarque e desembarque de carga e passageiros, definição de faixas de navegação, de sistema de comunicação e, principalmente horários de alto risco.

A maioria dos acidentes ocorre pela parte noturna, principalmente entre uma e 5 horas da manhã.

A prática indica que nesses horários o comandante da embarcação chama um auxiliar para comandar enquanto descansa. Essa é uma regra, infelizmente, nesse horário acontecem os acidentes, com embarcações tendo choques frontais ou laterais.

Os frontais por negligência ou irresponsabilidade absoluta de um dos comandantes de, pelo menos, uma das embarcações, e os laterais por impossibilidade de manobra devido ao tamanho das embarcações, principalmente aquelas que estão carregadas de contêineres e as chamadas “cabeças” de caminhões.

Ou se define um horário para a navegação ou os acidentes continuam acontecendo e, lamentavelmente, gente que nada tem a ver com isso, a não ser a decisão de usar esse meio de transporte, morrendo no meio do caminho de forma cruel: ou esmagado na ocasião do choque, ou afogado quando a embarcação em que estava afunda, ou dela é cuspido.

Lamentavelmente, no sábado, dia 06, antes das duas horas da madrugada, uma embarcação que pertence a uma empresa amapaense, a Nortelog, se viu envolvida em um acidente fluvial com resultado morte.

Uma balsa de passageiros, pertencente a uma empresa paraense, e uma balsa de carga, pertencente a uma empresa amapaense, na Baia do Marapatá, próximo à Ponta Negra, se chocaram, com a balsa de carga atingindo a lateral da balsa de passageiros onde, a maioria dormia.

O pânico é suficiente para que cada um dos passageiros nunca mais esqueça daquele momento e da dor, o suficiente para maldizer um sistema de transporte que é eficiente, usado pela população mais pobre da região, que não tem mais nenhuma alternativa para se deslocar de uma cidade para outra.

Os demorados inquéritos das autoridades responsáveis pela navegação na Amazônia, acabam por desiludir completamente os usuários que, sem ter alternativa, nem melhoria na comunicação ou sinalização, passados pouco tempo, lá estão na mesma embarcação, com os mesmos riscos e com as mesmas ambições.

Vejo governadores, em reuniões para beber sucos regionais, “tratando da Amazônia” como se não houvesse a navegação fluvial.

Senhores governadores, as pessoas na Amazônia viajam e a única alternativa que têm é a viajem fluvial, nas embarcações de passageiros que, de vez em quando, estão sendo abalroadas pelas embarcações de cargas, sempre maiores, mais pesadas e em comboio.

Ora, no episódio de sábado quando uma pessoa morreu e outros estão hospitalizados, o proprietário da embarcação de carga é um alto dirigente do Amapá, o vice-governador do Estado.

O que esperar o futuro?

O mesmo que os familiares dos mortos do Novo Amapá esperam até agora?

Ou os do Cidade de Óbidos VI?

Ou de outros que trazem tristes recordações do acidente, do resultado dos inquéritos, ou da inação dos governantes para., pelo menos diminuir o risco da viagem fluvial.

Saibam todos que há, nisso tudo, negligência, de muitos, mas especialmente, das autoridades. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário