sexta-feira, 13 de março de 2015

O que resta de engenharia no Amapá

Rodolfo Juarez
Pela nossa condição de engenheiro civil, com serviços prestados a diversas prefeituras municipais e ao governo do Estado do Amapá, sempre somos instigados a falar sobre o momento da engenharia civil por aqui.
Está evidente que a provocação é devido às dificuldades que os profissionais da Engenharia Civil estão encontrando para impor a ciência desse ramo do conhecimento como instrumento que possa servir à população, que se acostumou a ter no engenheiro um profissional ativo e um agente público criativo, que busca a realidade na execução de cada projeto que, além de ser um guia é um desafio aos testes de materiais que são descobertos ou simplesmente não vinha sendo usualmente utilizados no desenvolvimento e execução dos projetos que dão excelência ao atendimento do interesse público.
Os tempos são outros, diriam aqueles que não estão compreendendo o que está acontecendo com os profissionais de engenharia.
Em regra, muito mal pagos, ou com recompensas muito diferentes de outros profissionais com o mesmo tempo de escola e na mesma escala de importância e necessidade social.
Por aqui se deixou de respeitar o profissional engenheiro que foi largado em um mercado que não permite a busca de excelência e muito menos a melhoria na qualidade do conhecimento.
Um desrespeito que é incentivado, mesmo que indesejadamente, por aqueles que se arvoram a assumir responsabilidade por obras que executam e até pelos dirigentes públicos que quando contratam um serviço de engenharia imaginam que não precisa ser acompanhado ou orientado conforme a técnica e deixa o serviço “rolar” sem se preocupar com o tempo, pois não paga as faturas ou quando paga, faz com atrasos, ou com a qualidade dos serviços, pouco se importando com o resultado do contrato.
Basta ter a cor da pintura coincidindo com a cor do seu partido, que tudo está perfeito e que tudo está de acordo com o imaginado.
Isso, entretanto, não corresponde à verdade, nem à obviedade e muito menos à verdade técnica.
Obras definidas a partir de projetos básicos, serviços autorizados considerando apenas o menor preço, com visível abandono da coerente durabilidade razoável ou beleza adequada ao local onde se implanta a obra.
O zelo pela boa técnica está completamente perdido. Os serviços são, em regra, de qualidade duvidosa, proporcionando desastrosos resultados na construção das vias públicas, na definição da infraestrutura da cidade ou na funcionalidade de um prédio.
Aqui mesmo, o “habite-se” é apenas uma obediência legal deixando de lado todos os outros requisitos que possam dar acessibilidade conforme o uso, praticidade conforme a destinação e satisfação conforme a ocupação.
São construídas arapucas ao invés de prédios, onde as saídas de emergência (garantia de segurança do morador ou usuário) são tidas como exigências desnecessárias e diversas vezes não consideradas.
O prefeito de Macapá, a maior cidade do Estado, exige que o seu secretário de obras seja, antes de ser engenheiro, um “bom político”, ou seja, aquele que tem uma boa forma de “enrolar” população, adiando o que inadiável e dando soluções que não gostaria de dar como profissional, mas “tem que dar” como secretário.
No Estado, a conclusão ainda é mais eliminadora: para ser secretário de infraestrutura (obras de outros tempos) nem precisa se engenheiro. Precisa de alguém que conheça as leis para dar o tom legal aos projetos pouco se importando com a funcionalidade ou o preço.
Nota-se uma espécie de sumário de como não se deve tratar os engenheiros, esperando deles que o salário do final do mês, isso no setor público, seja o suficiente para que mantenha em alta a sua alto-estima e o orgulho de ser um profissional da engenharia.
Claro que não basta. Mas é o que resta!

Os resultados estão ai: uma cidade que quase não funciona, com as suas ruas e avenidas completamente ultrapassadas e sem futuro; as rodovias intermináveis; obras de edificações e infraestrutura inacabadas e tantas mazelas que são criadas a partir do mau uso do conhecimento técnico de engenharia que demonstra ter pouca força para reagir.

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