quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Os caminhos do sonho e a realidade

Rodolfo Juarez
Desde o final da década de cinquenta e o começo da década de sessenta que brotou o forte desejo na população, animado pelos políticos, estudantes, professores e alguns empresários, de que o Amapá virasse um Estado da Federação.
Com a Revolução de março de 1964 e a perseguição aos políticos ditos como “comunistas” houve um adormecimento da vontade de mudar.
Os governos militares iam se sucedendo e mandando para o Amapá governadores, também militares, que passaram a dirigir o Território Federal do Amapá de acordo com a disciplina militar, o que manteve por mais tempo o sonho de ser Estado além de adormecido, propositadamente sufocado.
Aos poucos, entretanto, alguns que se aproximavam dos governadores que chegavam, começaram a levar a mensagem para as “mesas oficiais” onde dividiam os espaços com os dirigentes “estrangeiros” e militares que aqui desembarcavam e vinham com uma missão que só seria exposta meses e até anos depois.
Quando Lisboa Freire substituiu Ivanhoé Gonçalves Martins, as lideranças políticas, os professores e os estudantes logo perceberam que havia espaço para avançar com a ideia de Estado.
Lisboa Freire, pouco chegado às preocupações com a gestão, governou o Amapá de novembro de 1972 a abril de 1974, isto é, por 17 meses, o suficiente para ser liberado e substituído pelo oficial da Marinha, Arthur Azevedo Hening, que já não pode conter a vontade declarada dos estudantes que levaram, a partir de 1975 para a Avenida FAB, durante os desfiles de 13 de setembro, as mensagens pedindo a transformação do Amapá em Estado.
Annibal Barcellos começou o seu governo em 15 de março de 1979 depois de nomeado pelo presidente da República João Figueiredo, que trazia a proposta de abertura política, para acalmar as ruas que já falavam na redemocratização do Brasil.
Barcellos não desanimou os que clamavam pela transformação do Amapá em Estado, principalmente quando identificou que alguns altos funcionários públicos eram radicalmente contra a transformação, provavelmente para que não fosse colocado em risco o status que desfrutava na Administração do Território.
A campanha pela transformação se intensificou e avançou muito depois da eleição, de forma indireta, de Tancredo Neves para presidente da Repúbica, cargo que não chegou a assumir, pois padeceu de doença grave que o levou a morte com a ascensão de José Sarney, em 1985, ao cargo de presidente da República Federativa do Brasil.
Foi nesse tempo que uma disputa intestina entre lideranças políticas do Amapá acabou favorecendo à vontade de José Sarney que indicou e nomeou para o Amapá o governador Jorge Nova da Costa, primeiro interinamente e depois, a partir de 4 de abril de 1986, quando foi efetivado no cargo.
Annibal Barcellos já havia construído os principais alicerces do futuro Estado e Nova da Costa ainda foi atrás de estruturar a economia do então território para receber o Estado que viria com a promulgação da Carta Magna de 1988.
O art. 14 do Ato das Disposições Transitórias passou a compor a história do Amapá, pois é lá que está consagrado o resultado da luta de muitas décadas e a concretização do sonho da transformação.
Depois de um período de transição, gerenciado por Gilton Garcia, o Estado do Amapá foi instalado em 1.º de janeiro de 1991, com a posse do primeiro governador eleito pelo voto direto do eleitor amapaense, Annibal Barcellos.
Desde 5 de outubro de 1988, quando houve a promulgação da Constituição Federal e a transformação do Território Federal do Amapá em Estado do Amapá, se passaram 29 anos e, ao que parece, a população ainda não percebeu os resultados do sonho que sonhou, de viver em um Estado progressista, autossuficiente e com bom ambiente para viver.

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