quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"Os buracos são meus..."

Rodolfo Juarez
Fazia tempo que eu não via uma herança, a princípio, aparentemente maldita, ser tão bem vinda para aquele que resolveu reservar um espaço, no seu depósito de problemas, para um que passou a ser bem-quisto e bem-vindo – o problema dos buracos das ruas e avenidas de Macapá.
“Os buracos são meus!”. Decretou o prefeito Clécio Luis, quando viu que terceiros estavam tentando se aproprias da sua herança, sabe lá para que.
Na dúvida deve ter pensado: “é melhor que fique com eles, vá lá que alguém venha e se aproprie e comece a fazer mídia a partir dos buracos e eu deixe passar a oportunidade.”
Afinal de contas já havia decretado situação de emergência, que o povo não viu; alegado falta de dinheiro para pagar funcionários, que o povo não acreditou; e o povo o tinha elegido prefeito, que ele mesmo parece não acreditar até agora.
Então, os buracos o povo vê, nos buracos o povo acredita e quem sabe, o prefeito não esteja pensando que ai está o grande mote, a grande oportunidade para manter a população de frente, pois percebe que alguns da população já começaram a virar de costas para ele, em tão pouco tempo.
Os “buracos são meus” pode ter sido a grande sacada que, mais tarde, pode virar o lema de uma campanha ou o slogan da administração.
Que são muitos: são muitos. Que são de tamanhos variados: são de tamanhos variados. Que funcionam como um lembrete para o nome do prefeito: isso não resta qualquer dúvida. Fazer disso um atrativo para chamar a atenção para os problemas da cidade: não sobra qualquer “gotinha” de erro.
Uma coisa só não está bem explicada – a declaração do prefeito de que encontrou um empresário bonzinho-bonzinho que se dispôs a emprestar asfalto, exatamente do tipo que não tem aqui, que chamou de asfalto especial para tapar buraco, enquanto não chega o asfalto da Prefeitura de Macapá.
Se não for confirmado que o coração desse empresário bonzinho-bonzinho, não está querendo cobrar em dobro depois, então o prefeito pode ter problema com os seus gastos feitos a partir do dinheiro público.
No começo do mandato do governador Camilo apareceu por aqui outro empresário - bonzinho-bonzinho -, que se dispôs a resolver o problema das rodovias usando um tipo “revolucionário” de asfalto, que chamou de “lama asfáltica” e que foi tema de discursos inflamados por parte do então secretário de transportes do Governo.
Mas tomara que a anunciada revolução tecnológica para tapa-buracos de ruas urbanas em Macapá (aonde chegamos!), não traga os problemas trazidos pela “lama asfáltica” e, ao contrário, seja o argumento que faltava para consolidar a tese e fazer valer a pena da afirmação de que “os buracos são meus”.
Não tivesse o Roberto Carlos se apressado e feito, para uma das novelas em cartaz na televisão, o hit “esse cara sou eu”, agora teria motivos melódicos e poéticos para fazer “os buracos são meus”.
Por isso, só possível se lançar mão do artifício da paródia. Seguindo a melodia e reescrevendo a letra para, em seguida, ocupar espaços nas rádios e nas televisões locais, declamando ou cantando para todos os desesperados condutores que estão lembrando-se do prefeito a toda hora.
Poderia começar assim a paródia:
Quem é que pensa em você toda hora?/Que conta um a um enquanto desenrola/Que está todo tempo querendo te ver/Porque não sabe ficar sem você/Que de noite e de dia te chama/ Pra dizer que tem lama e avisar/Esses buracos são meus/ São só meus/São só meus/São só meus. Esses buracos são meus/São só meus/São só meus. Esses buracos são meus.

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