Fazia tempo que
eu não via uma herança, a princípio, aparentemente maldita, ser tão bem vinda
para aquele que resolveu reservar um espaço, no seu depósito de problemas, para
um que passou a ser bem-quisto e bem-vindo – o problema dos buracos das ruas e
avenidas de Macapá.
“Os buracos são
meus!”. Decretou o prefeito Clécio Luis, quando viu que terceiros estavam
tentando se aproprias da sua herança, sabe lá para que.
Na dúvida deve
ter pensado: “é melhor que fique com eles, vá lá que alguém venha e se aproprie
e comece a fazer mídia a partir dos buracos e eu deixe passar a oportunidade.”
Afinal de contas
já havia decretado situação de emergência, que o povo não viu; alegado falta de
dinheiro para pagar funcionários, que o povo não acreditou; e o povo o tinha
elegido prefeito, que ele mesmo parece não acreditar até agora.
Então, os
buracos o povo vê, nos buracos o povo acredita e quem sabe, o prefeito não
esteja pensando que ai está o grande mote, a grande oportunidade para manter a
população de frente, pois percebe que alguns da população já começaram a virar
de costas para ele, em tão pouco tempo.
Os “buracos são
meus” pode ter sido a grande sacada que, mais tarde, pode virar o lema de uma
campanha ou o slogan da administração.
Que são muitos:
são muitos. Que são de tamanhos variados: são de tamanhos variados. Que
funcionam como um lembrete para o nome do prefeito: isso não resta qualquer
dúvida. Fazer disso um atrativo para chamar a atenção para os problemas da
cidade: não sobra qualquer “gotinha” de erro.
Uma coisa só não
está bem explicada – a declaração do prefeito de que encontrou um empresário
bonzinho-bonzinho que se dispôs a emprestar asfalto, exatamente do tipo que não
tem aqui, que chamou de asfalto especial para tapar buraco, enquanto não chega
o asfalto da Prefeitura de Macapá.
Se não for
confirmado que o coração desse empresário bonzinho-bonzinho, não está querendo
cobrar em dobro depois, então o prefeito pode ter problema com os seus gastos
feitos a partir do dinheiro público.
No começo do
mandato do governador Camilo apareceu por aqui outro empresário -
bonzinho-bonzinho -, que se dispôs a resolver o problema das rodovias usando um
tipo “revolucionário” de asfalto, que chamou de “lama asfáltica” e que foi tema
de discursos inflamados por parte do então secretário de transportes do
Governo.
Mas tomara que a
anunciada revolução tecnológica para tapa-buracos de ruas urbanas em Macapá
(aonde chegamos!), não traga os problemas trazidos pela “lama asfáltica” e, ao
contrário, seja o argumento que faltava para consolidar a tese e fazer valer a
pena da afirmação de que “os buracos são meus”.
Não tivesse o
Roberto Carlos se apressado e feito, para uma das novelas em cartaz na
televisão, o hit “esse cara sou eu”, agora teria motivos melódicos e poéticos
para fazer “os buracos são meus”.
Por isso, só
possível se lançar mão do artifício da paródia. Seguindo a melodia e
reescrevendo a letra para, em seguida, ocupar espaços nas rádios e nas
televisões locais, declamando ou cantando para todos os desesperados condutores
que estão lembrando-se do prefeito a toda hora.
Poderia começar
assim a paródia:
Quem é que pensa
em você toda hora?/Que conta um a um enquanto desenrola/Que está todo tempo
querendo te ver/Porque não sabe ficar sem você/Que de noite e de dia te chama/
Pra dizer que tem lama e avisar/Esses buracos são meus/ São só meus/São só
meus/São só meus. Esses buracos são meus/São só meus/São só meus. Esses buracos
são meus.
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