quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Reis I: A conta que não fecha

A CONTA QUE NÃO FECHA
Rodolfo Juarez
Mais uma vez os amapaenses tiveram que contar os seus mortos devido a uma tragédia – mais uma! – nas águas do rio Amazonas ou de um dos seus afluentes.
Foram 18 vidas encerradas no meio da manhã de sábado, quando todos os que morreram só queriam mostrar o seu respeito e o agradecimento pela vida (vejam isso), à Santa, uma tradição religiosa de muita força e que, na maioria das vezes não tem explicação razoável para os incrédulos.
Mas não é a religiosidade que está em discussão nesse momento. O que está em discussão é a fragilidade do modelo que as autoridades adotam para tratar a navegação fluvial no Amapá.
Provavelmente seja a situação mais desleixada de uma unidade Federação que dispões desses presentes da natureza, que são os rios.
Não é possível que as autoridades responsáveis pelo transporte fluvial sejam surdas e cegas ao ponto de não ouvir os gritos e nem ver o desespero de tantos que já tiveram que sepultar filhos, pais, irmãos, parentes afinal, depois de uma dessas tragédias, contadas às dezenas.
Não basta dizer que fiscalizou a saída da embarcação. É preciso entender que essas embarcações, autônomas que são, têm critérios técnicos para garantir a manobrabilidade e a estabilidade, que não permitem que a simples contagem de passageiros seja suficiente para dizer se a viagem, independente da distância que o plano da viagem defina, seja curta ou longa.
O acontecimento de sábado, quando o Barco/Motor Reis I naufragou poderia ter sido evitado. É lógico que a segurança precisa estar em primeiro plano, independente de todas as outras alegações que possam fazer parte da lista de objetivos ou de justificativas que o comandante ou o responsável pela viagem possam apresentar.
 A segurança precisa estar em primeiro lugar. Não há justificativa que possa convencer a autoridade a liberar uma embarcação para uma viagem, quando percebe que a segurança não é total.
Especificamente, no caso do B/M Reis I, a simples verificação de que o número de passageiros estava conforme o alvará que a embarcação recebeu, da própria Capitania dos Portos do Amapá, não seria bastante para a liberação da embarcação para a viagem.
Uma simples inspeção atestaria que a embarcação estava sem lastro, ou seja, não havia a carga que pudesse equilibrar a embarcação em um eventual desequilíbrio mais forte. Se isso não foi feito ou se não é feito por causa do tamanho da viagem, trata-se de um absurdo imperdoável.
É preciso que esse foco seja mudado. É preciso que o critério para liberação de uma embarcação para viajar, não importando a distância a ser percorrida, ou o tempo que seja gasto, obedeça a um padrão próprio da rota que a embarcação vai seguir.
Não adianta querer ser obediente a um padrão elaborado pela Marinha, ou pela própria Capitania dos Portos, o que precisa ter é um padrão que considere o mês do ano, a hora do dia e o momento da maré. De outra forma é arriscar a vida das pessoas que estão na embarcação.

Outro ponto que precisa ser efetivado para que se ter condições de prevenir é a efetivação do inquérito policial, conduzido pela Polícia Civil, independente do inquérito que foi aberto pela Capitania dos Portos, afinal de contas, 18 pessoas morreram e não há como deixar um quadro desse tamanho sem resposta da polícia.

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