A CONTA QUE NÃO
FECHA
Rodolfo Juarez
Mais uma vez os amapaenses tiveram que
contar os seus mortos devido a uma tragédia – mais uma! – nas águas do rio
Amazonas ou de um dos seus afluentes.
Foram 18 vidas encerradas no meio da manhã
de sábado, quando todos os que morreram só queriam mostrar o seu respeito e o
agradecimento pela vida (vejam isso), à Santa, uma tradição religiosa de muita
força e que, na maioria das vezes não tem explicação razoável para os
incrédulos.
Mas não é a religiosidade que está em
discussão nesse momento. O que está em discussão é a fragilidade do modelo que
as autoridades adotam para tratar a navegação fluvial no Amapá.
Provavelmente seja a situação mais
desleixada de uma unidade Federação que dispões desses presentes da natureza,
que são os rios.
Não é possível que as autoridades
responsáveis pelo transporte fluvial sejam surdas e cegas ao ponto de não ouvir
os gritos e nem ver o desespero de tantos que já tiveram que sepultar filhos,
pais, irmãos, parentes afinal, depois de uma dessas tragédias, contadas às
dezenas.
Não basta dizer que fiscalizou a saída
da embarcação. É preciso entender que essas embarcações, autônomas que são, têm
critérios técnicos para garantir a manobrabilidade e a estabilidade, que não
permitem que a simples contagem de passageiros seja suficiente para dizer se a
viagem, independente da distância que o plano da viagem defina, seja curta ou
longa.
O acontecimento de sábado, quando o
Barco/Motor Reis I naufragou poderia ter sido evitado. É lógico que a segurança
precisa estar em primeiro plano, independente de todas as outras alegações que
possam fazer parte da lista de objetivos ou de justificativas que o comandante
ou o responsável pela viagem possam apresentar.
A
segurança precisa estar em primeiro lugar. Não há justificativa que possa
convencer a autoridade a liberar uma embarcação para uma viagem, quando percebe
que a segurança não é total.
Especificamente, no caso do B/M Reis I,
a simples verificação de que o número de passageiros estava conforme o alvará
que a embarcação recebeu, da própria Capitania dos Portos do Amapá, não seria
bastante para a liberação da embarcação para a viagem.
Uma simples inspeção atestaria que a
embarcação estava sem lastro, ou seja, não havia a carga que pudesse equilibrar
a embarcação em um eventual desequilíbrio mais forte. Se isso não foi feito ou
se não é feito por causa do tamanho da viagem, trata-se de um absurdo
imperdoável.
É preciso que esse foco seja mudado. É
preciso que o critério para liberação de uma embarcação para viajar, não
importando a distância a ser percorrida, ou o tempo que seja gasto, obedeça a
um padrão próprio da rota que a embarcação vai seguir.
Não adianta querer ser obediente a um
padrão elaborado pela Marinha, ou pela própria Capitania dos Portos, o que
precisa ter é um padrão que considere o mês do ano, a hora do dia e o momento
da maré. De outra forma é arriscar a vida das pessoas que estão na embarcação.
Outro ponto que precisa ser efetivado
para que se ter condições de prevenir é a efetivação do inquérito policial,
conduzido pela Polícia Civil, independente do inquérito que foi aberto pela
Capitania dos Portos, afinal de contas, 18 pessoas morreram e não há como
deixar um quadro desse tamanho sem resposta da polícia.
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