quinta-feira, 30 de maio de 2013

O desastre no Porto dois meses depois

Rodolfo Juarez
Voltar a falar do ocorrido no porto de embarque de minério em Santana, sem nenhum dado novo e depois de dois meses do que aconteceu ali, além de ser a constatação de pouco caso é o registro de um costume que se instalou por aqui, principalmente considerando as questões de interesse dos menos aquinhoados.
Não que a empresa seja um desses menos aquinhoados, muito pelo contrário, mas porque são esses menos aquinhoados que continuam pendurados na esperança de serem vistos, ou pelos dirigentes da empresa ou pelos dirigentes do Estado ou do município.
Tem sido assim desde muito, mas muito diferente do que nos acostumamos a ver quando se trata desse tipo de desastre em locais nem tão distantes daqui, ou, se distantes, com diferenças muito pequenas nos elementos do cenário que conseguimos visualizar.
Lá no Rio Grande do Sul, no acontecimento da boate, onde também morreram pessoas, tem gente encarcerada, se conhece o resultado do inquérito, o Ministério Público está em vias de ofertar a denúncia e, se o número de vítimas foi bem maior que o daqui, o número de agentes provavelmente responsáveis, de testemunhas e de laudos por lá, foi muito maior.
A complexidade dos elementos para buscar os responsáveis são maiores lá do que aqui, entretanto, nem de perto se tem o resultado das providências tomadas aqui comparadas com as de lá.
No dia seguinte ao desastre no porto de embarque de minério, em Santana, as autoridades demonstraram que estavam dispostas a enfrentar o problema e resolvê-lo da melhor forma.
Que nada! Parece até que foi jogada ensaiada, mas só isso!
Todos os que foram lá no local do desastre, de lá voltaram afirmando que fariam alguma coisa. Essa “alguma coisa” foi se cristalizado, assim é que o Governo do Estado criou um grupo de trabalho, tendo na composição alguns secretários importantes sob o comando do Secretário de Indústria Comércio e Mineração.
A Assembleia Legislativa criou uma Comissão Especial, dando-lhe prazo para dar uma resposta para os demais deputados e para a sociedade.
O delegado titulara da 1ª Delegacia de Santana, instaurou um inquérito para fazer a persecução dos crimes decorrentes do desastre.
Nenhum dos mecanismos usados se mostrou eficiente e o resultado é o retrato das dificuldades que os agentes públicos encontrar para tratar esse assunto tão sério e de direto interesse, principalmente das famílias que perderam os seus parentes naquele inesquecível dia.
Já se forma dois meses e nada!
As famílias dos três desafortunados que continuam desaparecidos continuam pedindo compreensão das autoridades públicas e dos dirigentes da empresa. Eles não arredam pé um só dia, apoiado na mesma dor e no mesmo sentimento de impunidade que toma conta do ambiente.
As respostas são esperadas, em primeiro plano, daqueles que prometeram: o Estado, a Empresa, o Munícipio de Santana e, especialmente, a Polícia Civil, que através do inquérito policial que instaurou, precisa colher o maior número de dados, identificar os prováveis responsáveis, indiciá-los e mandar o Inquérito Policial para o Ministério Público.
É importante centrar, entretanto, no sofrimento das famílias dos três funcionários desaparecidos; nos gemidos, já sem força, dos filhos e dos demais parentes que, decidiram continuar a vigília até onde os seus corpos aguentarem, muito mais para serem vistas, do que animar a esperança de que os serviços de resgate sejam retomados e os corpos, ou o que restar deles, dos seus parentes localizados e resgatados.
O que se constata em Santana, depois do desastre no porto e o desastre no relacionamento que as empresas mantêm com os seus trabalhadores, suas famílias e os locais onde moram.  


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