domingo, 29 de janeiro de 2012

OS ESQUECIDOS DO RIO

Rodolfo Juarez
Tem sido assim, ao longo dos anos e para muitos dos amapaenses e não amapaenses, o mês de janeiro.
Um mês que alguns gostariam de esquecer, mas por causa de acontecimentos fortes e indesejados, acabam se perpetuando para a vida toda.
Foi assim que o dia 6 de janeiro ficou marcado.
Muitas famílias não conseguem esquecer. Esse dia trás a marca sofrida da tragédia do Barco Motor Novo Amapá, quando mais de 300 pessoas morreram no começo da noite, há 31 anos, em 1981.
Depois o dia 26 de janeiro, marcado por outro acidente fluvial, quando sete pessoas morreram, desafiando a compreensão humana, não só pelas circunstâncias, mas também pela situação como aconteceu. Outra vez uma viagem para Laranjal do Jari. Outra vez uma embarcação de madeira afunda e leva vidas importantes embora, para nunca mais.
Este ano, 2012, dois acidentes, desta feita um no mar e outro na terra; um resultado no afundamento de um navio de luxo, que fazia um cruzeiro, na costa da Itália, afundou e botou ponto final em diversas vidas e, agora mesmo, também de noite, três prédios caem no Rio de Janeiro, eles eram vizinhos e ocupavam endereços nobres no “coração” da cidade que vai sediar as Olimpíadas de 2016.
O mês é o mesmo os anos são diferentes, como diferentes são os socorros que foram prestados na Itália, no Rio de Janeiro e no Amapá.
Uma diferença brutal e uma indiferença que desafia a paciência do cidadão que mora por aqui, fazendo possível a manutenção das fronteiras dessas terras brasileiras.
E, pior, se acontecer, outra vez a necessidade de um socorro urgente para um barco que tenha problemas em uma viagem pelo Rio Jari, o sistema que o Estado dispõe para prestar os primeiros ou segundos socorros, simplesmente vai ser do mesmo nível daquele oferecido em 1981 para os sobreviventes do Novo Amapá.
Não dá mesmo para acreditar no cenário atual. Não dá para imaginar tanta insensibilidade dos homens que vêm governando o Estado de costas para o Grande Rio e seus afluentes, deixando que essa população “se vire” como puder, sem que tenha, pelo menos, a garantia de que, quando em perigo, o Estado cumpra o seu papel e mostre os seus aparelhos de socorro.
Os que fazem dos rios daqui, uma estrada molhada para o deslocamento das pessoas e das riquezas, já perderam as esperanças e já, na medida do possível, limitado pelas possibilidades de cada um, constroem as suas alternativas, abrindo mão do direito certo que têm para proteção de suas vidas e das vidas de suas famílias, e procurar na natureza as forças e as condições para sobreviver aos acidentes.
Mas, mesmo indignados, ninguém nega a necessidade da proteção e se valem da mesma esperança de que, um dia, o Estado se prepare para atender esses esquecidos, tão importantes para o desenvolvimento e a segurança da população, como aqueles que andam nas estradas de asfalto ou de chão, transportando riquezas e fazendo o desenvolvimento do Amapá.
Mas janeiro não perdoa. E tem cobrado com a vida de inocentes as condições para que os governantes se mexam, procurem encontrar alternativas para que, o deslocamento das pessoas tenha um mínimo de proteção e que elas possam continuar o seu trabalho permanente de fortalecer a conquista das fronteiras brasileiras.
As tragédias do Cajari (Novo Amapá), do Jari (Cidade de Óbidos VI), da Itália (Navio Cosa Concórdia) e da Cinelândia, no Rio de Janeiro (desabamento de 3 prédios no centro do Rio), precisam ser analisadas e consideradas as atuações dos agentes públicos em cada uma delas e, daí, avaliar a capacidade de ação e a eficácia dos resultados apresentados.
Bastas os agentes públicos locais serem coerentes e dar a mesma importância, que as autoridades italianas ou cariocas demonstraram ter com a vida das pessoas que têm a segurança de cada uma delas sob a sua responsabilidade.

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