segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A aposentadoria de um mestre

Rodolfo Juarez
A aposentadoria é entendida como um justo prêmio para aquele que completa um ciclo pré-definido em um cargo ou uma função.
O entendimento de prêmio está deixando de prevalecer por uma série de razões e, em algumas situações, se transforma em ordem mesmo que a pessoa não aceite assim e a coletividade assim não queira.
No Judiciário, entretanto, existe a aposentadoria compulsória, aquela que independe da disposição e o querer do aposentando ou das necessidades que tem a sociedade. A pessoa tem que ir para casa e no entendimento da regra, lá ficar o mais tempo que puder, mesmo que seja importante a sua presença ativa para a sociedade.
Dôglas Evangelista Ramos está experimentando, nesse momento, essa a sensação que a Lei lhe impõe e como magistrado que foi por quase toda a vida profissional, compreende e segue o que a Lei manda.
A sociedade local, entretanto, está lamentando não poder contar com o talento, a competência e o desempenho de Dôglas Evangelista, pois a regra manda que ele vá para casa, sem ele ter a oportunidade de dizer se quer isso ou não.
Aos setenta anos o desembargador Dôglas, além de experimentar um espetacular momento de amadurecimento, demonstra equilíbrio para distribuir entre os seus pares e entre aqueles que, junto com ele, construíram o dia-a-dia do Tribunal de Justiça do Estado do Amapá.
Um baiano de Barreiras, no interior do Estado da Bahia, onde começou e concluiu o curso primário e de onde, aos dezoito anos foi levado por um dos seus 12 irmãos para Brasília, com o objetivo de melhorar de vida.
Na capital federal começou ganhando o equivalente ao salário mínimo da época e reservava a metade para pagar o alojamento e a outra metade para a alimentação, mesmo assim fez o segundo grau, no mesmo período em que começou a trabalhar de datilógrafo em um cartório de notas da Capital Federal.
Vestibular, Curso de Direito e concursos fizeram sequência de sua vida. Foi professor universitário. Já como juiz, trabalhou em Rondônia onde estava quando foi nomeado para o cargo de Juiz de Direito da 1ª Circunscrição Judiciária de Macapá, isso em 1983.
Em Macapá começou a implantar o sistema que havia implantado com espetaculares resultados, em Rondônia. Mesmo sendo “substituto dele mesmo”, tinha a tempo para dedicação quase integral aos cuidados e exigências das eleições que eram realizadas em Macapá.
As sábias decisões que tomava, não só distribuía a paz entre os litigantes, mas também servia de exemplo para o comportamento das pessoas que estavam contribuindo para a construção socioadministrativa do Amapá.
Nos anos 80 as eleições tinham um sistema de apuração manual, conferindo um a um os votos, e o doutor Dôglas criava as equipes de apuração, constantes das regras da época, sabendo da dedicação a correção com que seriam realizados os trabalhos. Mas quando foi preciso guardar armado as urnas, ele mesmo assumia a guarda, para garantir a certeza da verdade.
Neste mês o desembargador Dôglas Evangelista Ramos completou 70 anos de idade e 30 anos de Amapá. Pelos 70 anos de idade teve que deixar a magistratura, mas sabe que pelos 30 anos de Amapá, terá o eterno agradecimento do povo que às vezes não sabe quem é o governador do Estado, mas sabe que é Dôglas Evangelista
Ramos, acima de tudo um humanista capaz de compreender o que pensam aqueles que não tiveram a oportunidade de exercer o potencial que Deus deu a cada um.

A população queria que ele continuasse no desembargo, pois sabia que seria um agente da Justiça e, principalmente, um humanista dedicado àqueles que confiam no poder da verdade e na qualidade do tratamento. O conforto é saber que deixou bons continuadores. 

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