O BUSTO
Rodolfo Juarez
Fazia tempo que a população e o
eleitorado amapaenses não se deparavam com um assunto tão comum, noutros
tempos, mas raro e de certa forma proibido, nos tempos atuais.
Houve um tempo, quando os dirigentes se
consideravam divinos e selecionados por Deus, que a idolatria se impunha e os
bustos, estátuas e referências pessoais se tornaram questão de obrigação dos
súditos aos seus dirigentes e, não raro, algozes.
O tempo passou e as regras sociais
sustentadas na ética, na moral e no direito, acabaram por impor comportamentos
diferentes, tendo hoje expresso em lei, que é proibido até o nome de pessoas
vivas em prédios públicos, exatamente para que isso não se transforme em um
diferencial que pode influenciar na atitude do povo na hora de votar,
principalmente quando for para escolher os dirigentes.
Até agora ainda não foi vencido, em
alguns estados brasileiros, inclusive o Amapá, por exemplo, a “necessidade” de
colocar a fotografia do mandatário ocasional, nas salas dos ambientes públicos,
goste ou não os servidores públicos que lá trabalham.
Por isso, toda vez que muda o governador
do Estado do Amapá, lá vai para todas as salas dos dirigentes - ou quase todas
-, a foto posada do governador, às vezes com a faixa que recebeu no dia da
posse, outra vez sem a formalidade do traje. Adorno pago com o dinheiro do
contribuinte.
Saiu de moda - ou foi tirado da moda -,
o caso das “homenagens” mais bizarras como as estátuas e os bustos.
Mas o caso do busto oferecido pela população
de Amapá é um fato que precisa ser analisado à parte e por ângulos diferentes.
Primeiramente, há de se considerar uma
promessa que, a guisa de provocação, alguns moradores faziam a todos os
governadores que chegavam à sede do município de Amapá e falavam no ramal que
liga aquela sede à BR-156, elegendo prioridade para o ramal de 18 quilômetros
de extensão.
Receberam essa promessa muitos
governadores, quase todos os que falavam, também por lá, da importância da
BR-156 para o desenvolvimento do Estado e para o município de Amapá.
Ora, a estrada já passou pelo município
faz tempo, pelo menos 6 anos de concluída e os moradores da cidade de Amapá não
botavam mais fé em ninguém, mas continuavam afirmando que fariam o tal busto:
“o governador que fizer esse ramal vai ganhar um busto”, diziam.
O governador Camilo foi quem fez. Por
isso, ganhou o tal busto prometido.
Claro que caberia a ele, governador, ou
aos que são pagos para zelar pela imagem dele, medir as consequências de uma
aceitação ou a definição de uma forma para aceitação, para não parecer que se
trata de uma volta aos tempos de Roma, quando os dirigentes se diziam enviados
diretos de Deus.
O problema foi aceitar.
Muitos entendem que isso não tem nada a
ver com a vontade do governador, ou com a forma como ele encara os resultados
dos seus trabalhos, mas também tem os que entendem que se trata de uma
manifestação narcisista, imperial ou de necessidade de afirmação.
Claro que a oposição irá ao exagero, mas
não será por isso que os auxiliares do governador se posicionem na linha de
frente e empunhando o tal busto como motivação e como se fosse a demonstração
de sintonia entre o comandante e os comandados.
Isso é uma questão à parte, pois, o
ramal ficou muito bom, muito embora chegue 3 anos depois que o governador
Camilo assumiu o governo e ainda falta a volta pelo ramal da Base Aérea, mas
chega na frente de todos os outros que o sucederem e, melhor, não há mais o
obstáculo terrestre para aqueles que quiserem ir a cidade de Amapá, nem que
seja para uma simples visita.
No mais, o busto passa a ser um detalhe
para os moradores da sede do município de Pracuuba. Quem sabe se prometer outro
busto, o ramal de acesso àquela sede também não sai?
Uma questão de lógica. Não é!?
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