terça-feira, 15 de abril de 2014

Chega de hipocrisia

Rodolfo Juarez
As recentes explosões, seguidas de incêndios com perda total de embarcações, havidas no rio Matapimirim, no Igarapé das Pedrinhas, no Igarapé do Perpétuo Socorro, deixando trabalhadores mortos e muitos deformados pelas queimaduras que lhes marcaram para o resto da vida, não pode ser mais e apenas uma questão de falta ou ausência de qualquer fiscalização.
Faltam condições de segurança para que os embarcadiços exerçam as atividades que, se não foram as profissões que escolheram, faram as que lhes atribuíram para participar da corrente social com dignidade e humanidade.
São muitos e cada vez mais, considerando o crescimento do mercado que é atendido pelos que usam as pequenas embarcações para atravessar o rio, em forma de baia, de lá para cá e de cá para lá.
Pequenos motores são os auxiliares dos braços fortes dos homens que todas as marés enfrentam o perigo da travessia, o vento forte e as ondas que o rio levanta como dificuldade a ser vencida todas às vezes, pelas pequenas embarcações.
Os pequenos motores são a explosão, como os dos carros - movidos à gasolina ou a óleo diesel -, e as embarcações são equivalentes aos caminhões de carga que circulam pela cidade e viajam pelas rodovias, de município para município.
Acontece que os condutores e trabalhadores dos carros têm uma infraestrutura para atender às suas necessidades, entre elas as ruas e vias estruturadas ou em estruturação; postos de combustível preparados e os veículos têm tanques apropriados para transportar o combustível.
E os ribeirinhos, bravos pescadores e produtores que trabalham, em suas pequenas embarcações, não têm esse direito?
É possível atender às suas necessidades com as críticas que são feitas pela forma como transportam o combustível?
É correto culpa-los por esta situação?
Claro que não!
Eles não têm culpa se os gerentes sociais lhes ofereceram vasilhame inapropriado para transportar o combustível. Se eles ficaram abandonados nas suas casas na beira dos rios da Amazônia, sem assistência e com a falta do oferecimento do direito que é de todos os brasileiros e não apenas daqueles que moram nas cidades.
Os ribeirinhos são submetidos aos altos riscos, inclusive de explosões como as havidas naqueles locais, tombando morto ou saindo com queimaduras por todo o corpo e vendo seu patrimônio e de suas famílias serem consumidos pelo foto, ficando apenas com a dor e a certeza que é ele que tem que fazer tudo o que já tinha feito; vencer tudo o que já tinha vencido.
É hora das autoridades deixarem de ser imediatista, colocando a culpa em quem menos tem culpa. Afinal de contas lhes restou exatamente o meio que estão usando para atender às suas necessidades.
Ninguém pode culpar aquele que trabalha em uma embarcação pelo que tem acontecido. Eles não têm culpa alguma, a não ser a vontade de trabalhar para educar os filhos que já estão nas cidades; procurar a saúde para seus familiares, que também só tem na cidade e comprar o motor que está na loja e o combustível que está no posto de combustível localizado de forma a aumentar a insegurança física dos que estão por perto, inclusive os que abastecem as embarcações.
Os ancoradouros do Igarapé das Mulheres, do Igarapé do Jandiá, do Igarapé das Pedrinhas, do Igarapé da Fortaleza, do Igarapé do Matapimirim e todos aqueles onde as pequenas embarcações atracam precisam ser adequados às necessidades dos ribeirinhos.

Se não querem respeitar o trabalho destes homens, nestas embarcações, pelo menos que respeitem o direito à vida que lhes é garantido na Carta Magna.

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