quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cinquenta anos depois

CINQUENTA ANOS DEPOIS
Rodolfo Juarez
Não gosto de escrever na primeira pessoa. Mas, não tenho dúvidas que a situação é especial e vem da provocação que, indiretamente, me foi feito por alguns que retrataram o comportamento que tiveram logo após a tomada do governo pelos militares no dia 31 de março de 1964.
Às vésperas de completar 18 anos (chegaria nesta idade no dia 19 de maio de 1964), cursando o colegial no Colégio Amapaense e trabalhando na marchantaria Roque Batista e já alistado para o serviço militar obrigatório, além de ser alvo natural dos poderosos, tinha todo o perfil daqueles que estavam dispostos a ir para a rua, como estudantes voluntariosos, em passeata de greve ou protesto. Até enterro simbólico de diretor do Colégio Amapaense foi feito.
Desde quando assumiu o governo, Jânio Quadros já tinha um olhado de través para o Amapá, então Território Federal, administrado com má vontade pelo Governo Central que estava disposto a “varrer” tudo o que havia por aqui, pois Jânio havia sido eleito como o “homem da vassoura”.
Sete meses depois, Jânio Quadros renunciou ao governo e assumiu o seu vice, João Gullar.
Naquele tempo, capitalismo e comunismo, dividiam o mundo e serviam de discurso para pressionar o alinhamento das nações em torno dos Estados Unidos (capitalista) e Rússia (comunista) ou URSS.
João Gullar tendia para um alinhamento com os soviéticos e cubanos, contrário aos interesses das forças armadas nacionais que, desde a posse de “Jango” prometiam e se preparavam para reagir, tomando o governo.
Esse clima veio para o então Território do Amapá, que também dividia as opiniões entre os capitalistas e os comunistas, aqueles muito mais preparados e estes, muito mais teóricos, afinal de contas tinham podido declarar a sua simpatia a pouco tempo, desde a posse de João Gullar.
Os estudantes se posicionaram rapidamente: contra o poder!
A juventude de um modo geral, já percebia a falta de oportunidade que o país oferecia. Naquele tempo, por exemplo, para se tornar aluno do Colégio Amapaense, mesmo no curso ginasial, era preciso fazer prova de seleção, uma espécie de vestibular dos tempos atuais.
Entre todos os do grupo de contestadores, dispostos a lutar pelas mudanças políticas no país, havia aqueles que ficavam, como hoje, sob a saia do poder, negando a luta geral e ampla, mas defendendo a posição social que recebia como recompensa tendo oportunidade de conviver com a elite daquela época.
Aqueles ligados ao poder tinham os espaços no governo, no esporte, no lazer e principalmente nos eventos culturais; para os que contestavam sobrava nada. Diziam as autoridades ou seus representantes que precisavam se “alinhar”, não protestar, deixar de falar do desempenho do governo.
Entre os contestadores, aqueles que estavam em luta permanente, exigindo melhorias e querendo mudanças políticas, inclusive com relação à transformação do território em estado, dois grupos estavam perfeitamente definidos: os que queriam a boa luta pelas mudanças no Amapá e aqueles que estavam dispostos a esconderem-se.
E foi assim!
Cinquenta anos depois, alguns tentam contar o que não viram e o que não passaram.
Procuram mostrar-se como vítimas, inventando estórias, criando factoides, mesmo sabendo que fugiram da luta, deixando os seus companheiros desfalcados da importância que tinham para o movimento.
Os que não puderam sair para estudar ficaram por aqui, chapeados e perseguidos pelos ditadores, mas nunca desprezados por aqueles sempre tiveram dispostos a enfrentar as dificuldades.

Agora, cinquenta anos depois, eles não precisam inventar nenhuma estória. 

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