CINQUENTA ANOS DEPOIS
Rodolfo Juarez
Não
gosto de escrever na primeira pessoa. Mas, não tenho dúvidas que a situação é
especial e vem da provocação que, indiretamente, me foi feito por alguns que
retrataram o comportamento que tiveram logo após a tomada do governo pelos
militares no dia 31 de março de 1964.
Às
vésperas de completar 18 anos (chegaria nesta idade no dia 19 de maio de 1964),
cursando o colegial no Colégio Amapaense e trabalhando na marchantaria Roque
Batista e já alistado para o serviço militar obrigatório, além de ser alvo
natural dos poderosos, tinha todo o perfil daqueles que estavam dispostos a ir
para a rua, como estudantes voluntariosos, em passeata de greve ou protesto.
Até enterro simbólico de diretor do Colégio Amapaense foi feito.
Desde
quando assumiu o governo, Jânio Quadros já tinha um olhado de través para o
Amapá, então Território Federal, administrado com má vontade pelo Governo
Central que estava disposto a “varrer” tudo o que havia por aqui, pois Jânio
havia sido eleito como o “homem da vassoura”.
Sete
meses depois, Jânio Quadros renunciou ao governo e assumiu o seu vice, João
Gullar.
Naquele
tempo, capitalismo e comunismo, dividiam o mundo e serviam de discurso para
pressionar o alinhamento das nações em torno dos Estados Unidos (capitalista) e
Rússia (comunista) ou URSS.
João
Gullar tendia para um alinhamento com os soviéticos e cubanos, contrário aos
interesses das forças armadas nacionais que, desde a posse de “Jango” prometiam
e se preparavam para reagir, tomando o governo.
Esse
clima veio para o então Território do Amapá, que também dividia as opiniões
entre os capitalistas e os comunistas, aqueles muito mais preparados e estes,
muito mais teóricos, afinal de contas tinham podido declarar a sua simpatia a
pouco tempo, desde a posse de João Gullar.
Os
estudantes se posicionaram rapidamente: contra o poder!
A
juventude de um modo geral, já percebia a falta de oportunidade que o país
oferecia. Naquele tempo, por exemplo, para se tornar aluno do Colégio
Amapaense, mesmo no curso ginasial, era preciso fazer prova de seleção, uma
espécie de vestibular dos tempos atuais.
Entre
todos os do grupo de contestadores, dispostos a lutar pelas mudanças políticas
no país, havia aqueles que ficavam, como hoje, sob a saia do poder, negando a
luta geral e ampla, mas defendendo a posição social que recebia como recompensa
tendo oportunidade de conviver com a elite daquela época.
Aqueles
ligados ao poder tinham os espaços no governo, no esporte, no lazer e
principalmente nos eventos culturais; para os que contestavam sobrava nada.
Diziam as autoridades ou seus representantes que precisavam se “alinhar”, não
protestar, deixar de falar do desempenho do governo.
Entre
os contestadores, aqueles que estavam em luta permanente, exigindo melhorias e
querendo mudanças políticas, inclusive com relação à transformação do
território em estado, dois grupos estavam perfeitamente definidos: os que
queriam a boa luta pelas mudanças no Amapá e aqueles que estavam dispostos a
esconderem-se.
E foi
assim!
Cinquenta
anos depois, alguns tentam contar o que não viram e o que não passaram.
Procuram
mostrar-se como vítimas, inventando estórias, criando factoides, mesmo sabendo
que fugiram da luta, deixando os seus companheiros desfalcados da importância
que tinham para o movimento.
Os que
não puderam sair para estudar ficaram por aqui, chapeados e perseguidos pelos
ditadores, mas nunca desprezados por aqueles sempre tiveram dispostos a
enfrentar as dificuldades.
Agora,
cinquenta anos depois, eles não precisam inventar nenhuma estória.
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