quarta-feira, 19 de março de 2014

Quem paga é o povo

Rodolfo Juarez
Não dá para acreditar.
A Federação Amapaense de Futebol, que tinha marcado a abertura do campeonato de futebol profissional para o dia 15 de março, cumpriu essa parte da promessa.
Acontece que tinha também marcado outros jogos em seguida. Mas nada, mal terminou a partida e veio o anúncio de que uma nova partida pela competição, só depois, sem dada definida, como se isso também não fosse o descumprimento do Estatuto do Torcedor.
É a primeira vez que uma competição começa e para logo depois de haver começado. Uma disposição para brincar com os clubes que, afinal de contas, são os que fazem a competição.
Mas isso tem motivo?
Tem. E são motivos locais e nacionais.
O modelo desenhado pela Confederação e aprovado pela maioria das federações estaduais, está levando o futebol brasileiro para um buraco que ele está com dificuldades de sair e as únicas portas de acesso ao problema são as próprias federações estaduais.
Essas entidades, Confederação e federações estaduais, estão ficando com todo o dinheiro gerado pelo esporte, através de patrocínios milionários de autarquias, empresas públicas e governos estaduais e municipais, nem que para isso tenha que ferrar os clubes e passar a dar em conta-gotas aos dirigentes, alguns com vontade de ser os únicos profissionais da entidade esportiva.
No atual modelo, as federações estaduais recebem um avantajado recurso, sob o carimbo de “auxílio financeiro” que seria para manter a estrutura da federação e projetar o crescimento do futebol, com os dirigentes nacionais, recebendo em troca, o voto para as sucessivas reeleições, até que o dirigente, principalmente o presidente, seja apanhado com a boca na botija, fazendo o que não está no rol de suas atribuições.
Acontece que para garantir o poder, os dirigentes das federações – a do Amapá no meio – acabam também prestando “socorro” a alguns dirigentes que são levados a participar de campeonatos sem qualquer lucratividade e objetivo.
As rendas são ridículas, pois não há promoção e, até mesmo, confiança do torcedor na competição que, não raro, apresenta-se sem objetivos.
As categorias de base, que seria uma das motivações para uma federação como a do Amapá, ficam relegadas e sendo realizadas como se torneios fossem sem qualquer assistência aos atletas e com treinadores que têm apenas boa vontade de acertar e que dizem gostar do futebol.
É por isso que o campeonato amapaense começou, mas não começou.
O jogo, como classificou o próprio presidente de uma das agremiações, “foi um treino para os jogos das competições nacionais”.
Os clubes não têm condições de participar da competição e os dirigentes da Federação de Futebol estão desesperados, pois, na regra da Confederação Nacional, a federação estadual tem que realizar o campeonato para poder continuar contando com as benesses do “auxílio mensal” que é bem gordo.
Agora a pressão da vez está sob o dinheiro público, a tal da ajuda que os dirigentes da federação querem para fazer a competição, a mais curta possível, para depois mandar o relatório para a CBF em troca das entradas para os jogos da Copa do Mundo, reserva dos melhores lugares nos estádios, com tudo pago, inclusive o deslocamento, para os dirigentes da federação e seus convidados.
Quem paga?

Adivinhou que disse que é o povo. E não pode reclamar.

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