terça-feira, 1 de março de 2011

EM NOME DA GOVERNABILIDADE

Rodolfo Juarez
É muito difícil identificar o ponto de convergência dos interesses políticos e dos interesses administrativos. Têm se mostrado repetitivo e conflitante os fundamentos desses interesses e que, ao final de tudo, confundem e prejudicam as relações políticas e as relações administrativas.
Fazer um governo compartilhado exige autoridade técnica dos administradores e compreensão política dos políticos e, principalmente, agir em proteção tanto aos conceitos administrativos como aos conceitos políticos.
Já está completamente vencida a compreensão de que os conchavos elaborados e fechados nas campanhas são apenas para aquelas campanhas e quando termina o processo de eleição, findam também os acordos.
As campanhas vitoriosas, depois do sucesso eleitoral, são marcadas por cumprimento de acordos, próprios da campanha política, que se estendem para dentro da administração. Sabendo disso, os gestores dos partidos já vinculam ao resultado da campanha o tamanho do compromisso que um terá com outro.
Isso ganha um nome pomposo e escrito com muitas letras – governabilidade.
Então, garantir a governabilidade passou a ser o discurso dos administradores para justificar as suas decisões, algumas completamente em desacordo com a lógica administrativa, a não ser quando se compreende que a “escolha” é apenas para “resolver” um item acordado, sabendo que a situação é impossível de dar certo.
Naturalmente que esse comportamento gera algumas dificuldades para a própria administração que, em nome da governabilidade, prejudica o processo de gestão global, com prejuízos que poderiam ser evitados.
Mas compromisso é compromisso. E na política nunca se deve cultivar a mentira que, por si só, constrói as distâncias entre as pessoas.
Então resta ao administrador, em nome da governabilidade, aceitar as imposições dos aliados e ainda ter que se valer de ações criativas para não abalar as relações que se mostram estáveis e até com grandes possibilidades de dar certo na administração.
As relações entre os gestores públicos e os gestores partidários precisam ser controladas em muitos casos e as repercussões desse controle sempre se mostram mais amenas quando os resultados atendem aos interesses da gestão pública e da gestão partidária. Na hipótese da gestão partidária há o risco de conflitos e os desentendimentos começam a ser gerados exatamente nesse ponto.
E é natural que o partido do gestor público mais influente reaja quando percebe que, em razão da administração está perdendo espaço político para o agora aliado e futuro concorrente que, avalia, precisa ser forte, mas não tanto que chegue arriscar a supremacia do que detém o Poder.
É assim que tem sido construída a história recente da administração pública no Estado do Amapá, cheia de boa vontade e com resultados que são surpreendentes pelas concessões que são feitas em nome da governabilidade.
Passados os dois primeiros meses da gestão do atual governo já são claros os pontos de divergência entre os aliados. Além da distância que já começaram a ser colocadas, há o abandono da gestão com relação à alguns gestores que não seguiram a orientação geral.
Isso é razoável acontecer?
Pode ser entendido que sim. Entretanto, nesse momento, todas as partes da gestão precisam estar maximizadas para dar resultado calculado.

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