domingo, 7 de outubro de 2012

90 anos do meu pai

UM HOMEM SÁBIO.
Rodolfo Juarez
Ele estaria hoje demais animado com a coincidência das datas e exercitando uma das suas grandes paixões – analisar o que poderia ser o resultado da eleição.
Naquele tempo a apuração de uma eleição era feita entre 15 e 30 dias, dependendo do tempo que as urnas demoravam a serem agrupadas no local da apuração e da quantidade de urnas (e votos) para serem apuradas. Isso sem contar com as necessidades extraordinárias das juntas apuradoras, estas até hoje previstas na regra das eleições.
Alistado nas fileiras de alguns dos líderes nacionais, não deixava de declarar que, ao contrário do alguns pregavam, a política era coisa muito séria e por isso, nela não cabiam subterfúgios e enganações.
Os tempo era outro, mas tudo se passava como se fosse agora. Claro que com as dificuldades de comunicação de outrora e com as facilidades da informação e registro de agora.
Mas era, mesmo na beira do rio, um grande consultor de candidatos e de eleitor. Discutia com desenvoltura as eleições nacionais e tinha um registro pessoal e instantâneo, sobre a política regional, que impressionava a todos, inclusive a mim que, mesmo no começo da vida, me interessava pelas conversas que ele levava com as lideranças políticas paraenses, especialmente as dos municípios de Afuá, Anajás, Chaves e Breves.
Sempre acompanhava o que registrava a imprensa nacional, principalmente o que constava da revista “O Cruzeiro”, uma publicação semanal que trazia os acontecimentos para perto de todos aqueles que se interessaram em conhecê-los, mesmo morando nos lugares mais distantes no interior da Amazônia.
Não era apenas um leitor e não só leitor de política. Tinha interesse pela informação, mas dependendo da época, dedicava mais tempo para este ou aquele assunto. Mas sempre as notícias sobre a política nacional e regional eram “abatidas” na primeira leitura.
Desde que Carlos Lacerda apareceu para o cenário nacional, percebia-se uma especial atenção a tudo o que ele dizia. Os seus discursos eram lidos e relidos e, algumas vezes, tinham trechos inteiros marcados para serem repetidos nos momentos oportunos.
Mas também reagiu à mesmice nacional quando apoiou Jânio Quadros para presidente da República. Muito embora tenha se sentido frustrado quando soube da renúncia do “Homem da Vassoura”, sete meses após ter assumido o cargo, ouvindo a Rádio Jornal do Comércio, “uma voz do Brasil falando para o Mundo”, uma emissora de rádio de Recife/PE.
Aliás, esse fato, a renúncia do presidente Jânio Quadros, rendeu várias discussões entre as lideranças que sempre comentavam o momento nacional.
Tudo isso trouxe para cada um de nós, seus filhos, já um pouco depois, clarividência sobre as linhas que cada um havia de seguir.
O Jurandil desde os 10 anos já estruturava uma espécie de plano de ação, já em Macapá, atento ao que rondava o mundo, no auge da guerra fria entre os Estados Unidos e Rússia, aquele defendendo o livre mercado e esta, a concentração do comércio sob a ação direta do Estado.
O alinhamento das pessoas que estavam formando as suas convicções não deixava por menos: ou falava pelo imperialismo ou pelo comunismo. Essa situação inquietava o seu Marcos, muito mais atraído pelas mensagens americanas, e fazia com que o Jurandil fosse o provocador, apoiando-se algumas das teses das lideranças russas.
Mas esse homem foi o meu mestre, foi o meu pai, que neste domingo, estaria completando 90 anos de idade. Ele nasceu no dia 7 de outubro de 1922.
Ele é indiscutivelmente, o responsável pela formação política de todos os seus 12 filhos, 9 homens e 3 mulheres, que antes de qualquer convicção política, abriu as portas para que todos conhecessem a liberdade e escolhesse o caminho que lhes parecesse o melhor.
Meu pai foi um homem sábio!  

Um comentário:

  1. Realmente, um homem sábio intrui seus sucessores (filhos) com argumentos e ensinemtnos suficientes para que estes tomem, sozinhos, sob seus valores e convicções, as decisões sobre suas vidas e que tipo de influência venham realizar sobre os seus.

    Esse mesmo comportamento e valor, que em outra vez chamei de LEGADO, foi passado para minha geração. Sei que meus irmãos recebem a mesma liberdade oferta ao meu Pai e tios pelo meu avô, aquele homem sábio numa Amazônia mais distante ainda que a nossa!

    Ainda bem que esseLEGADO posso carregar e repassar!

    Parabéns vovô, parabéns papai!

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