Rodolfo Juarez
Tem sido assim, ao
longo dos anos e para muitos dos amapaenses e não amapaenses, o mês de janeiro.
Um mês que alguns
gostariam de esquecer, mas por causa de acontecimentos fortes e indesejados,
acabam se perpetuando para a vida toda.
Foi assim que o dia 6
de janeiro ficou marcado.
Muitas famílias não
conseguem esquecer. Esse dia trás a marca sofrida da tragédia do Barco Motor
Novo Amapá, quando mais de 300 pessoas morreram no começo da noite, há 32 anos,
em 1981.
Depois o dia 26 de
janeiro 2002, marcado por outro acidente fluvial, quando sete pessoas morreram,
desafiando a compreensão humana, não só pelas circunstâncias, mas também pela
situação como aconteceu. Outra vez uma viagem para Laranjal do Jari. Outra vez
uma embarcação de madeira afunda e leva vidas importantes embora, para nunca
mais.
Em 2012, dois
acidentes, desta feita um no mar e outro na terra; um resultado no afundamento
de um navio de luxo, que fazia um cruzeiro, na costa da Itália, afundou e botou
ponto final em diversas vidas e, agora mesmo, também de noite, três prédios
caem no Rio de Janeiro, eles eram vizinhos e ocupavam endereços nobres no
“coração” da cidade que vai sediar as Olimpíadas de 2016.
O mês é o mesmo os
anos são diferentes, como diferentes são os socorros que foram prestados na
Itália, no Rio de Janeiro e no Amapá.
Uma diferença brutal
e uma indiferença que desafia a paciência do cidadão que mora por aqui, fazendo
possível a manutenção das fronteiras dessas terras brasileiras.
E, pior, se
acontecer, outra vez a necessidade de um socorro urgente para um barco que
tenha problemas em uma viagem pelo Rio Jari, o sistema que o Estado dispõe para
prestar os primeiros ou segundos socorros, simplesmente vai ser do mesmo nível
daquele oferecido em 1981 para os sobreviventes do Novo Amapá.
Não dá mesmo para
acreditar no cenário atual. Não dá para imaginar tanta insensibilidade dos
homens que poderiam melhor planejar o desenvolvimento desse Estado, colocando-o
de frente para o rio Amazonas e seus afluentes, não deixando que população “se
vire” como puder, sem que tenha, pelo menos, a garantia de que, quando em
perigo, o Estado cumpra o seu papel e mostre os seus aparelhos de socorro.
Os que fazem dos rios
daqui, uma estrada molhada para o deslocamento das pessoas e das riquezas, já
perderam as esperanças e já, na medida do possível, limitado pelas
possibilidades de cada um, constroem as suas alternativas, abrindo mão do
direito certo que têm para proteção de suas vidas e das vidas de suas famílias,
e procurar na natureza as forças e as condições para sobreviver aos acidentes.
Mas, mesmo
indignados, ninguém nega a necessidade da proteção e se valem da mesma
esperança de que, um dia, o Estado se prepare para atender esses esquecidos,
tão importantes para o desenvolvimento e a segurança da população, como aqueles
que andam nas estradas de asfalto ou de chão, transportando riquezas e fazendo
o desenvolvimento do Amapá.
Mas janeiro não
perdoa. Tem cobrado com a vida de inocentes as condições para que os
governantes se mexam, procurem encontrar alternativas para que, o deslocamento
das pessoas tenha um mínimo de proteção e que elas possam continuar o seu
trabalho permanente de fortalecer a conquista das fronteiras brasileiras.
As tragédias do
Cajari, em 1991 (Novo Amapá), e do Jari, em 2002 (Cidade de Óbidos VI),
precisam ser analisadas e consideradas as atuações dos agentes públicos em cada
uma delas e, daí, avaliar a capacidade de ação de cada um.
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