domingo, 3 de março de 2013

O espelho dos sonhos

Rodolfo Juarez
Ainda não dá para avaliar se o caminho que o prefeito de Macapá, Clécio Luis, escolheu para seguir o está levando para uma área própria ao trabalho que disse que pretende fazer, ou se vai dar de cara com um paredão de dificuldades que precisará transpô-lo, se tiver condições, ou retornar para começar tudo de novo.
Até agora o que se observa são tentativas, ainda muito dispersas e sem balizas, o que certamente, dificulta as correções no percurso, durante a execução das tarefas. Os problemas ainda são analisados de forma isolada e assim também, tomadas de forma isoladas as iniciativas de solução.
Essa avaliação é enganosa, mas muito conveniente para os auxiliares que não gostam de discutir ou não sabem como dizer para o prefeito, o que precisa ser feito e por uma razão muito simples - exige conhecimento, alguns específicos e detalhados -, além da boa vontade e disposição para enfrentar situações que pedem decisões imediatas e sustentadas pelo conhecimento que, muitos vezes é escasso ou não consta da formação daquele agente público que tem a atribuição de tomar as decisões.
Para prejudicar a relação do gestor com a população, aquele sempre tem à sua disposição – ou quando não tem, coloca -, alguns arautos que fantasiam situações irreais, pretendendo que a população embarque em avaliações equivocadas, acreditando que a população não terá oportunidade de confirmar, ou que está disposta a acreditar no que é dito.
Os dois parâmetros de que se valem esses arautos – avaliação popular ou crédito virtual -, são frágeis, pois o comportamento atual da população, seja pela desconfiança ou pelo histórico das administrações imediatamente anteriores, aniquilam esses “valores” e desmascaram os que informam errado quase que imediatamente.
Os dois primeiros meses da administração atual foram cheios de altos e baios. Medidas equivocadas se colocaram à vista de todos; anúncios e afirmações não se confirmaram; alguns problemas da gestão anterior já se repetiram e, principalmente, os resultados não apareceram.
É difícil gerir, pelas regras atuais de definição das receitas públicas e das responsabilidades sociais, qualquer município brasileiro. Mas isso não pode ser motivo para colocar as dificuldades como elemento de discurso para justificar o resultado do trabalho dos agentes públicos que, voluntariamente se prontificaram a bem fazê-lo.
O prefeito, por mais confiança que tenha no poder da mídia ou dos profissionais que a conformam, não tem porque se encolher e passar a desviar-se da realidade e dos problemas reais. Deve sim, isso parece mais eficaz, primeiro estar disposto a conhecer todos os problemas e depois, enfrentá-lo pessoalmente, até que forme uma correnteza de confiança capaz de não deixar que os auxiliares fujam dela.
Por enquanto ainda há espaço suficiente para que o prefeito não permita que seja construído, ao seu redor, o espelho dos sonhos, onde o que vê é uma cidade e um município sem problemas ou apenas com os problemas que, na avaliação dos “auxiliares”, são dos outros.
Nesse espelho, depois, se deixar que isso aconteça, vai ver a cidade virtual, irreal e onde todos são felizes, a exceção daqueles que insistem a “ser do contra” ou “não gostar do gestor ou do partido dele”.
Se o prefeito permitir que isso aconteça, estará cometendo o mesmo erro dos antecessores que se valeram da informação, algumas até verdadeiras, para desviar a atenção daquilo que precisava ser tratado. Os exemplos são muitos e estão por todos os lados.
O espelho dos sonhos é tão perigoso que, quando reflete a imagem irreal, deixa massageado o ego do gestor e desperta o narcisismo que sempre negou, mas que, aproveita a ocasião, instala-se no agente público, transformando-o em produto do próprio sonho.  

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