terça-feira, 5 de junho de 2012

CORPO NO ASFALTO

Rodolfo Juarez
Os pais dos jovens que vão aos sábados ao Shopping Macapá, ou para o cinema, ou para os brinquedos, ou para qualquer outra diversão ou encontro naquele local, ainda estão abalados pelos acontecimentos que culminaram com a morte de um adolescente de 19 anos no asfalto da Rua Leopoldo Machado.
Um desfecho assim era previsível pelo histórico que vinha sendo construído naquele trecho da rua devido ao que se propalava à boca pequena, entre os jovens e também entre alguns utilizadores das redes sociais, que percebiam a marcação de encontros não muito amistosos para aquele local.
O ponto de referência para os encontros nada amistosos escolhido pelos jovens era sempre o mesmo – “em frente ao Shopping”.
Motivo suficiente para que os órgãos da defesa social mantivessem-se atentos e prontos para evitar o pior, o que acabou não sendo evitado.
Pode ser até que alguém pergunte: mas o que eu tenho a ver com isso?
Ora, tudo!
Todos nós temos uma parcela de responsabilidade por tudo o que acontece na cidade, seja de ruim ou de bom, afinal de contas vivemos em sociedade e em uma sociedade relativamente pequena e que precisa crescer segundo conceitos que afastem a autodestruição, seja ela da forma for.
Mas, assim como tem que não se ache responsável pelo que aconteceu, também tem aqueles que querem saber o que poderá ser feito, pelo menos daqui em diante, para que outros fatos como o de sábado não sejam repetidos e que seja ele, o fato, utilizado como exemplo para outras áreas da cidade, igualmente ou mais sujeitas a outro crime com essa mesma motivação.
Ficam os órgãos de inteligência e, principalmente, aqueles setores responsáveis pelas informações e identificações de áreas de risco, devendo ações preventivas, com incursões que, se fossem em outras áreas, principalmente aquelas freqüentadas por pessoas mais carentes, teriam sido feitas repetidas vezes.
Não será essa falha que vai inibir o sistema de defesa social do Estado a agir em situações semelhantes, estejam elas acontecendo agora ou, mesmo, se ainda não foram identificas ou estejam em fase de identificação.
A realidade é que as relações entre as pessoas mudaram e mudaram muito.
Então, parece óbvio, que as providências para perceber essas mudanças devam estar sendo tomadas. O sistema de defesa social não pode ignorar essas mutações e, mais, precisa se antecipar aos fatos.
As informações que são disponibilizadas indicam que os estudos para esses casos estão em fase avançada e que, entretanto, a parte operacional e que vem tendo resistência de alguns setores que preferem o tradicional e as medidas de operação padrão que, comprovadamente, não estão surtindo o nível de eficácia esperado.
Na aula de introdução ao conteúdo programático já fica a mensagem de que o potencial crime, quando combatido eficazmente, muda apenas de local, mas não perde o potencial, uma vez que toda a “inteligência do plano” está elaborada e, conforme estabelece as regras da criminologia, precisa ser seguido, acompanhando o deslocamento, para ver onde ele encontra campo fértil e que possa substituir o local para onde fora originalmente preparado.
E o trecho da Leopoldo Machado, que tem como referência o Shopping Macapá, aparentemente continha todos os elementos exigidos para o deslocamento do local do plano. Senão vejamos: acesso fácil, tanto pelo sistema de transporte coletivo, como por outro tipo de veículo ou mesmo a pé; público jovem disposto a eleger os seus “falsos heróis”; e um lugar de excelência para evasões ou fugas.
Então, se os protagonistas decidiram mudar de “arena” era ou não provável que fosse para aquele local onde ficou um corpo no asfalto?


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